Sobre a premiação do Oscar 2019: Wakanda e os desafios femininos
Em Il Gattopardo (O Leopardo), o escritor Tomasi di Lampedusa narra a decadência da nobreza e a ascensão de uma nova classe na Itália do final do século XIX: pessoas com dinheiro, destituídas de sangue nobre, mas ávidas para comprar o status que tal condição hereditária propiciava. Adaptado para o cinema pelo genial Luchino Visconti, obra e filme adaptado trazem uma frase antológica que, em livre transcrição, seria: “Para que as coisas permaneçam iguais é preciso que tudo mude.” Mas o que essa frase tem a ver com a premiação do Oscar e os desafios femininos?
Sobre as mudanças necessárias (e as que estão acontecendo), na premiação do Oscar
Embora o contexto seja muito diferente, a frase surgiu em minha mente quando li a lista dos indicados ao Oscar 2019. Nessa 91ª edição, mais uma vez, nenhuma mulher concorre à categoria de Melhor Direção e nenhum filme dirigido por mulher foi indicado a Melhor Filme.
Bons longas como “Poderia me Perdoar”, “Duas Rainhas” e ‘”Cafarnaum” – dirigidos respectivamente por Marielle Heller, Josie Rourke e Nadine Labaki – disputam outras categorias.
Tudo permanece igual? Nem tudo, a premiação do Oscar 2019 está ao mesmo tempo diferente! Pantera Negra – que traz o universo cinematográfico da Marvel Comics e nos apresenta as mulheres fortes de Wakanda – se tornou o primeiro longa de super-herói a ser indicado a Melhor Filme.
Uma grande mudança se formos olhar a premiação do Oscar dos anos anteriores.
Sobre o filme Pantera Negra e a importância da representatividade
O filme traz para primeiro plano não apenas um herói negro, mas a representatividade de uma nação forte, tecnológica e com mulheres que vivem de igual para igual com os homens, tanto na sociedade civil quanto na militar. 4Na mítica Wakanda nunca é dito: “Você é uma garota, então não pode…”. Em uma entrevista ao site Entertainment Weekly, a atriz Lupita Nyong’o, que interpreta Naki, contou:
“Assistindo ao filme pela primeira vez, vi que as diferentes mulheres ocupam o mesmo espaço e são totalmente autônomas, agindo não como competidoras, mas como parceiras. Suas motivações pessoais são o que as leva adiante. Elas não são colírios para os olhos, embora a agente esteja sempre maravilhosa”
Demais, né?!
Então, tudo igual na premiação do Oscar, mas algo diferente. Os “donos do prêmio” decidiram incutir uma novidade ao indicar um filme protagonizado por negros e a manter o conservadorismo ao não indicar diretoras. Pois, bem. No entanto, Wakanda simboliza muito mais. O roteiro, além de representar uma nova geração de mulheres – cientistas, guerreiras, professoras, racionais, estratégicas e boas de briga – traz temas relevantes como o sequestro de meninas na África.
E assim caminhamos. Como os italianos dizem: piano, piano se va a lontano (devagar se vai longe). Mas que não se enganem. Queremos mais espaço e vamos conquistá-lo, imprimindo cada vez mais celeridade ao processo. Mulheres nunca desistem. Vida longa a Wakanda!
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial