Literatura e informação como instrumento de combate ao racismo
Na minha visão, as histórias escritas sobre a época da escravidão muitas vezes desumanizam os escravos ou estabelecem parâmetros irreais para os fatos, amenizando-os. Ao contrário, em O livro dos negros sentimos a força das decisões da protagonista e sua incrível energia.
Existe uma mancha na história da humanidade que, na minha percepção, precisa ser devidamente analisada com o apoio da leitura de aspectos históricos e reais. É fato que homens e mulheres foram escravizados apenas pela cor da sua pele e privados de direitos da liberdade e que, para reconquistá-la, lutaram com forças e energias quase sobre-humanas. Lawrence Hill – autor de O livro dos negros, sociólogo e descendente de africanos escravizados nos Estados Unidos – passou a escrever sobre a história dos negros que imigraram para o Canadá; filho de pioneiros em movimentos em prol dos direitos civis, ele é um estudioso da temática da escravidão e vencedor de importantes prêmios literários.
Na obra O livro dos negros – lançado no Brasil pela Primavera Editorial, que disponibilizou download gratuito da obra durante a pandemia, chegando a 1.500 exemplares –, Hill conta a trajetória de Aminata Diallo, que foi sequestrada aos 11 anos. Retirada da sua tribo na África e vendida como escrava na Carolina do Sul – um dos Estados mais escravocratas da região Sul dos Estados Unidos –, ela escapa e forja o próprio caminho, lutando na Guerra de Independência ao lado dos britânicos. A decisão foi norteada pela existência de um caderno, O livro dos negros, que permitiria, caso o seu nome estivesse inscrito nele, fugir para outra colônia britânica, para a região em que hoje se situa o Canadá. Com o intuito de erguer-se acima das determinações escravocratas, Aminata mantém intactas a dignidade e a humanidade, mesmo diante das situações mais horríveis.
E por que estou destacando essa obra? Na minha visão, as histórias escritas sobre a época da escravidão muitas vezes desumanizam os escravos ou estabelecem parâmetros irreais para os fatos, amenizando-os. Ao contrário, em O livro dos negros sentimos a força das decisões da protagonista; a sua energia e destreza em lutar contra os desmandos.
Apaixonante, forte e espetacular, a obra deu origem à minissérie The Book of Negroes, produzida pela CBC, que teve a estreia em fevereiro de 2015. Na TV Globo, a série foi exibida em 2019, com o título Meu nome é liberdade. Estrelada pelo vencedor do Oscar, Cuba Gooding Jr., e pela atriz Aunjanue Ellis, a série impulsionou as vendas do livro no exterior, chegando a mais de um milhão de cópias vendidas, tornando-se uma nova referência das obras de grande impacto e sucesso dos Estados Unidos na atualidade.
Esse livro foi vencedor de prêmios importantes como o Commonwealth Writers’ Prize e o Rogers Writers’ Trust Fiction Prize, sendo classificado como “maravilhosamente escrito” pelo jornal The New York Times; “de parar o coração”, pelo Washington Post; e “uma heroína indomável”, pelo Globe and Mail.