A força do movimento desmotivacional
“Movimento desmotivacional ganha força”, uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada em vários veículos do Brasil, capturou a minha atenção. Claro que não é a primeira vez que leio um texto sobre a positividade tóxica, mas a matéria em questão orienta o nosso olhar para o dano dessa positividade dentro do ambiente corporativo.
Algo, aliás, muito impulsionado pelos coaches e expresso, com excelente dose de humor, pela frase “trabalhe enquanto eles dormem”.
A romantização do excesso de trabalho tem um impacto real na saúde da mente não apenas do brasileiro, mas a nossa nação tem destaque especial. A pesquisa Mental Health Among Adults During the Covid-19 Pandemic Lockdown – conduzida em 11 países pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – revela que ocupamos o primeiro lugar desse ranking com a maior taxa de ansiedade e depressão entre os países pesquisados.
Positividade tóxica e o movimento desmotivacional: como lidar
Combater a positividade tóxica do trabalho com bom humor e memes diz muito sobre o comportamento dos brasileiros e, ao contrário de um julgamento precipitado, não tem a ver com banalizar o problema ou defender a negatividade.
Está mais associado a um questionamento sobre a urgência em encontrar o equilíbrio. Acho bastante relevante falarmos desse tema em um momento como o que estamos vivendo. E, aqui, tenho que incluir a questão social: a precarização e a ausência de emprego.
Em um país com taxas inacreditáveis de desemprego e uma população gigante em vulnerabilidade socioeconômica, falar sobre positividade tóxica no ambiente do trabalho parece coisa de gente privilegiada. É também; não apenas. Esse é um assunto que envolve todas as pessoas.
A vulnerabilidade social e econômica tem “motivado” muitas pessoas a trabalhar exaustivamente em subempregos (aplicativos de transporte, entregas de comida etc.); em outra vertente, o grupo dos que têm empregos formais, por exemplo, lidam com a insegurança, trabalhando muito mais como forma de “não perder o emprego”.
Há um terceiro cenário dos desalentados (sem emprego e perspectivas de vida). Todas essas vivências estão afetando a nossa relação com o trabalho.
Dentre todas as sequelas da pandemia, essa relação nociva com o trabalho é uma das feridas que vamos precisar curar. E, temos que dar visibilidade a esse problema – seja com bom humor ou mau humor.
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