
A importância de ler (e respeitar) a demanda social por respeito
Nas últimas semanas, entre tantas notícias, dois casos chamaram a minha atenção. A primeira história envolve o prefeito de Araucária, no Paraná, Hissam Hussein Dehaini. Aos 65 anos, ele se casou com uma adolescente de 16 anos; na sequência, a mãe dessa jovem foi promovida, assumindo o cargo de secretária da Cultura do município. Sem dúvida, esse caso movimentou a opinião pública brasileira, porque, embora o casamento seja permitido a partir dos 16 anos – quando há consentimento dos pais – a história envolve poder, política, dinheiro e uma menor.
A segunda notícia foi a contratação do técnico Cuca pelo Corinthians. A decisão da diretoria do time gerou protestos de parte da torcida – especialmente a feminina – por ser ele condenado por envolvimento no estupro de uma garota de 13 anos em Berna, na Suíça, em 1987. À época, ele era jogador do Grêmio e foi condenado a 15 meses de prisão por atentado ao pudor com uso de violência. Seis dias após a sua apresentação oficial como treinador do time, ele pediu demissão por não aguentar a pressão exercida por torcedores que fazem uma leitura mais criteriosa sobre o que significa essa condenação do passado. O movimento #ForaCuca ganhou força dentro e fora das redes sociais.
Nessas duas histórias enxergo um elemento essencial; a demanda social por respeito em uma sociedade que está evoluindo e exigindo uma postura que não combina com a exploração de mulheres e meninas. Muitos podem alegar que as duas adolescentes concordaram; que devemos respeitar a decisão delas e tal. Mas, o que a sociedade entende é que os dois casos são bastantes nebulosos e que, na dúvida, não devemos perder de vista a idade dos envolvidos (sobretudo, as garotas) e a situação de poder que abarca as situações.
Os antigos donos do poder – que sempre estiveram acostumados a tomar decisões sem piscar ou pensar nas implicações morais e éticas – precisam, rapidamente, entender que o mundo mudou. E que, aliás, está girando rumo a uma transformação ainda maior.
Há resistências, claro, desse comportamento inadequado! Mas, vale lembrar que não se impede o curso das evoluções.