
A objetificação feminina e o crime
Acredito que concordamos que a objetificação sexual do corpo feminino é desumanizadora. Em um processo que transforma um ser humano em um pedaço de carne – sujeito a receber, passivamente, as ações de terceiros (geralmente, homens), constatamos exatamente o quão violento é esse ato.
Um estudo conduzido pela doutora em Ciências Públicas, Caroline Heldman, mostra que 96% das imagens relacionadas à objetificação sexual são de mulheres. Esse dado nos diz muito e aponta a escala de um problema que a sociedade finge não ver. Até que, em um belo dia, torne-se crime. Esse é o caso do golpe dos nudes.
Depois de ser denunciado – no programa Linha Direta, apresentado por Pedro Bial – uma operação da Polícia Civil prendeu 33 suspeitos de participar do crime em 11 cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O golpe entra em ação quando a quadrilha atrai empresários, médicos e políticos para uma suposta conversa com uma jovem menor de idade; no bate-papo on-line, “ela” envia nudes. No momento da conversa, um suposto parente ou uma autoridade policial flagra o crime e passa a extorquir dinheiro da vítima (que, no geral, são homens mais velhos) para que a conversa não seja exposta.
No golpe, há o envolvimento de uma jovem de 17 anos – que recebia até 200 reais por pacote de imagens. Ela foi aliciada pela organização criminosa; suas fotos eram usadas no esquema. Há suspeita de que outras adolescentes e jovens mulheres tenham sido coagidas pelos criminosos.
Esse caso ilustra como o corpo feminino é sucessivamente usado para todo tipo de desmandos. É a partir da discussão desse crime, e devida punição dos envolvidos, que podemos ampliar a análise para melhor compreender – e combater – a objetificação sexual e as maneiras como ela se concretiza. O corpo da mulher tem sido, há séculos, vendido e usado para diversas finalidades masculinas. Muitos vão alegar que isso só ocorre com a anuência delas, mas será que é simples assim? Acredito que não.
E, se estamos em um processo de transformação social – enfrentando os tabus e questionando o papel e o tratamento dado às mulheres nas sociedades contemporâneas – temos que ter coragem para falar também sobre essa objetificação.