Os descaminhos da ajuda humanitária da ONU no Haiti
O The New York Times publicou uma reportagem que traz uma denúncia alarmante sobre a ajuda humanitária no Haiti, a MINUSTAH. Soldados da Organização das Nações Unidas deixaram para trás centenas de crianças – bebês gerados por membros da força da paz que hoje é comandada por um militar brasileiro: o ministro Augusto Heleno.
No texto, há o caso de uma garota de 14 anos que se envolveu com Miguel, um soldado que não ficou muito tempo e voltou ao Brasil, deixando-a grávida e com a promessa de ajuda. Mas, o pai da menina a expulsou de casa e, hoje, ela trabalha por 25 centavos de dólar a hora para alimentar o filho: um garoto que tem quatro anos.
Segundo o estudo, são 265 histórias de crianças que foram abandonadas pelos pais, soldados da missão humanitária por lá.
Que tipo de ajuda humanitária é essa? Mais do que discutir a atuação da ONU, temos que pensar na falta de responsabilidade de homens de diferentes nacionalidades. E eu acredito que essa cultura do “descarte” humano tem que mudar.
Como um profissional se propõe a ir até um outro lugar para oferecer ajuda humanitária e, ao invés de ajudar uma nação em um momento de crise, se desvia a ponto de causar um dano enorme – que aprofunda a situação de desalento, miséria e calamidade vivida pelo povo a ser auxiliado? Que tipo de ser humano age desse jeito?
Ajuda humanitária: o que é preciso para ajudar de verdade?
Acredito que vale uma reflexão crítica sobre a tendência humana de fechar os olhos para uma realidade, que nos desafia a confrontar os desvios desse tipo de ajuda humanitária.
Pensamos que os fins justificam os meios; que os “efeitos colaterais” são mínimos diante do tamanho da ajuda que foi prestada. Não acredito nisso. Pelo contrário. Penso que o caminho para chegar a algum resultado é tão importante quanto o resultado propriamente dito.
O artigo em questão traz uma séria crítica à ONU feita por grupos de advogados que lutam pelo reconhecimento de paternidade de algumas das crianças. O estudo que lançou luz ao problema afirma que a missão de paz foi devastadora para o Haiti, de acordo com organizações e pesquisadores dos direitos humanos.
Vai muito além de filhos sem pais. Os mantenedores da paz também foram acusados de matar “sem querer” dezenas de civis e por introduzir a cólera no país após o terremoto – iniciando uma epidemia que matou mais de 10 mil pessoas e adoeceu outras 800 mil. Lamentável.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial