Armário-cápsula é alternativa para economizar e reduzir escolhas diárias
Muito tem se falado sobre “armário cápsula”, aquele guarda-roupa que só tem peças boas e atemporais que se complementam. Qual é esta tendência que já atingiu até os executivos mais bem-sucedidos e promove, além dos benefícios financeiros, benefícios psicológicos?
Já parou para pensar no tempo e na energia gastos na hora de se arrumar, colocando e tirando roupas que não cabem ou não ficam bem? Na sensação de “não tenho nada pra usar” mesmo com um closet lotado de roupa? E aquelas comprinhas banais que se agigantam na fatura do cartão no fim do mês? Impulsionados por uma falsa crença de que “ser é ter”, nossos armários estão mais cheios do que o necessário e os malefícios podem ser – para nós e para o mundo – enormes.
Em uma perspectiva de novas soluções, surge o conceito de armário-cápsula: a filosofia de ter no guarda-roupa uma quantidade limitada de peças para vestir durante um tempo determinado, apenas variando combinações com as peças existentes. A ideia, atual, na verdade, não é tão nova assim. Foi pensada pela estilista britânica Susie Faux na década de 70 e reforçada por Donna Karan, da famosa DKNY, com o lançamento de uma coleção de apenas sete peças que se complementavam entre si, em 1985. Consegue imaginar esse desfile?
Na era dos millennials, a onda de consumo consciente trouxe de novo à tona os debates sobre os benefícios de se ter um miniarmário contendo apenas peças versáteis que usamos (e amamos), nos caem bem e representam nosso estilo. A ideia é que essas peças sirvam para diversas ocasiões, do trabalho ao happy hour, que combinem entre si, e que sejam de qualidade, duráveis. Essa alternativa vem com a proposta de eliminar da nossa rotina distrações e perda de tempo, e traz praticidade, energia, foco, economia e até autoestima.
Por muitos anos, vimos o cofundador da Apple Inc., Steve Jobs, usando a mesma combinação todos os dias: camiseta preta gola alta, jeans azul e tênis claro. O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, já declarou publicamente seguir pelo mesmo caminho, com camisetas cinza, jeans e moletom. O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sempre escolhia ternos cinza ou azuis e, em uma entrevista à revista Vanity Fair, exaltou: “Estou tentando reduzir as decisões diárias, porque tenho muitas outras a tomar”. Quando temos um número enxuto e estratégico de peças, reduzimos o número de decisões que temos que tomar e sobra mais tempo e energia para focar em coisas mais importantes. No Brasil, a ativista ambiental Fernanda Cortez e a consultora de moda Giovanna Nader são adeptas ao armário cápsula. Cortez afirmou em sua coluna na Revista Glamour nunca ter imaginado “que um guarda-roupa fosse me aproximar cada vez mais do que realmente importa”.
Um armário muito cheio dificulta uma visão completa do que temos. Quando isso acontece, acabamos fazendo novas compras por impulso e, consequentemente, gastando mais. Sabe aquela blusinha “só comprei porque estava na promoção” que a gente acaba não usando nunca? No longo prazo, essas escolhas pesam bastante no bolso. Pense que gastar, digamos, R$ 150 por mês em peças que vamos usar pouquíssimo resulta um total de R$1.800 por ano que poderiam ser gastos com experiências, como uma viagem inesquecível de fim de semana, por exemplo; ou mesmo investidos naquele curso ou plano de negócio engavetado que podem mudar sua vida; na sua aposentadoria; num fundo de renda fixa para que você possa trabalhar menos e desfrutar mais… tudo isso sem abrir mão de nada importante.
Existem projetos que indicam duração e quantidade de peças para um armário-cápsula ideal. O Project 333, por exemplo, sugere que 33 itens são suficientes, incluindo roupas, acessórios, joias e sapatos, com duração de três meses (cada estação). Outros recomendam entre 10 e 75 peças, sem definir um período de uso. O importante é não se fixar em regras específicas. Cada pessoa pode adaptar o armário a sua realidade. O que todos têm em comum é o objetivo de nos fazer refletir sobre excessos e facilitar a nossa vida.
Deu vontade de tentar?
Numa era de tantos excessos, há quem diga que nos limitar pode nos libertar.
Ana Maria Sbardella
Jornalista