A triste realidade das meninas na sociedade afegã
Em inúmeras sociedades tradicionais, a cultura se tornou álibi para perpetuar um tratamento degradante dispensado às mulheres. A preferência por homens faz com que famílias lidem com o nascimento de meninas da pior forma possível; e a vida das meninas na sociedade afegã já começa muito difícil.
Recentemente, uma reportagem veiculada na rede norte-americana CNN revelou uma face incongruente dessa realidade enfrentada por garotas do Afeganistão. A matéria They wanted a son so much they made their daughter live as a boy mostra que apoiados por uma sociedade profundamente patriarcal, pais vestem meninas com roupas masculinas em uma prática secular chamada bachaposh (vestida como um menino, em livre tradução).
Meninas na sociedade afegã: um fardo
Na prática, as meninas assumem uma nova identidade masculina e passam a desenvolver atividades que seriam desempenhadas por garotos (como se existisse, no mundo real, tarefas de homens e de mulheres).
Quando atingirem a puberdade, voltam a ser mulheres com a finalidade de matrimônio.
Uma das histórias trazidas na reportagem é de Magal Karimy, 13 anos. Nascida em uma pequena aldeia no oeste do Afeganistão, até os dois anos de idade era Madina – uma das sete filhas de uma família considerada “incompleta” por não ter filhos.
A tradição permitiu que o pai decidisse que ela seria um filho. Essa decisão ajuda a família a evitar o estigma social e traz “sorte” para que os pais possam ter uma nova gravidez que resultará na chegada do tão espera do homem.
Especialistas e órgãos como a Agência de Notícias das Mulheres do Afeganistão alertam para os danos psicológicos dessa prática cultural, incluindo a ideia de que garotas são um fardo; de que meninos podem desenvolver tarefas que as meninas não podem. Embora uma bachaposh desfrute da mesma liberdade dos homens – podem transitar sem companhia masculina, por exemplo – só se beneficia disso até os 17/18 anos.
Como resultado, muitas não querem voltar a viver como mulheres, pois não suportam a possibilidade de enfrentar as restrições de gênero: aprender a usar burca, cozinhar para as famílias, baixar o olhar entre desconhecidos. Outras, não se reconhecem mais como mulheres.
Uma lástima! O mundo já deu tantos passos em direção ao futuro, mas algumas práticas permanecem tão surreais que desafiam a evolução.
Nos quatro cantos do mundo encontramos histórias que violam os direitos humanos; que são uma afronta contra as mulheres e crianças, em especial.
Que possamos, em um futuro próximo, entender que tradições culturais que desrespeitem seres humanos não devem ser toleradas, tampouco perpetuadas.
Para saber mais sobre o tema, embora não haja vasto material em Língua Portuguesa, indico o documentário Sheismyson: Afghanistan’s Bacha Posh, when girls become boys, que traz legendas em espanhol.
Foto de Loulou D’Aki, National Geographic.
Lu Magalhães, Presidente da Primavera Editorial.