As novas visões do mercado livreiro
O livro como instrumento agregador foi uma das novidades que mais gostei de ver na Feira de Frankfurt 2022. Apresentado por uma ONG da Espanha – país homenageado na edição deste ano –, o livro infantil trazia diferentes formatos para a leitura: texto convencional, braille, ilustrações com relevos e texturas, áudio. Ou seja, acessibilidade para que todos possam ler a mesma obra, tendo experiências sensoriais diferentes com ela. Para além da inclusão, enxergo essa tendência como um novo olhar para abraçarmos verdadeiramente a diversidade.
Estive na Feira de Frankfurt e, na minha percepção, essa foi uma edição histórica. Primeira pós-pandemia, a feira foi pontuada pelo esforço de criar uma transição harmoniosa do virtual para o presencial; contou, ainda, com a participação de Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, discursando em um salão lotado. Entre mensagens de agradecimento pela atenção mundial dispensada ao país, estava a mensagem de que é dever do mercado editorial global apoiar os esforços dos ucranianos para preservar e promover os livros desta nação. Menor em tamanho, participação de empresas e número de profissionais, a edição 2022 teve como grande novidade o áudio, com o anúncio de que o Spotify está entrando no mercado de audiolivros.
Como o áudio pode ser novidade? Há muitas formas! Assisti a várias mesas com debates críticos sobre como consolidar a estratégia de promover essa indústria na perspectiva de preços, operacional, catálogo e assinaturas. Pelo que li e ouvi, o áudio está vivendo um momento semelhante ao que tivemos com o lançamento dos e-books. Na prática, teremos alguns anos de investimentos nesse formato, que alimentarão inovações consistentes para que os livros estejam presentes na vida de novos leitores com perfis diferentes dos amantes do impresso e/ou digital.
Uma ideia que especialmente me tocou foi o conceito do livro como agregador. Explicando melhor: apresentado por uma ONG da Espanha – país homenageado na edição deste ano da Feira de Frankfurt –, o livro infantil trazia diferentes formatos para a leitura: texto convencional, braille, ilustrações com relevos e texturas, áudio. Ou seja, acessibilidade para que todos possam ler a mesma obra, tendo experiências sensoriais diferentes com ela. Para além da inclusão, enxergo essa tendência como um novo olhar para abraçarmos verdadeiramente a diversidade. Entender que nem todo mundo lê de maneira igual é a porta de entrada para a criação de projetos muito diferenciados e inovadores mediados ou não pela tecnologia.
Para a Primavera Editorial foi um ano diferente, especialmente porque nos alimentou para construirmos a estratégia dos próximos dois anos. Inclusive, teremos novidades como o fortalecimento de um selo editorial muito especial, voltado a negócios. Uma coisa que me chamou a atenção é que o feminismo deixou de ser uma agenda principal da feira para se tornar um tema transversal. E isso é uma boa notícia! Deixe-me explicar… lembra quando tecnologia era objeto de um departamento chamado TI nas empresas? Pois bem, hoje a tecnologia da informação está em todas as áreas das empresas; não há um espaço dentro das corporações que não seja visto pela lente da tecnologia. Da mesma forma, enxergo que o tema feminismo deixa de ser uma “caixinha” dentro da feira para ser uma estratégia que permeia todas as editoras e o negócio livreiro.
Essa é uma evolução fundante para a igualdade de gênero no mercado editorial. Que venha essa nova era!