Cancelamento na internet: quando os oprimidos viram os opressores
Ficou difícil ignorar o Big Brother Brasil deste ano. Afinal, ele escancarou nossa ‘mania’ de apontar o dedo e julgar o outro; e mostrou como isso pode afetar e muito as pessoas que estão sendo alvo desse cancelamento na internet.
E quando o oprimido vira o opressor? E quando o cancelador vira cancelado?
O Big Brother Brasil 21 nos trouxe outros espaços de perspectivas que, não há como negar, machucam. Diversas pessoas relatam parar de assistir ao programa devido aos gatilhos psicológicos que tem causado. O que era um espaço para um lazer e alienação, tornou-se um espaço de reflexão e espelho da nossa sociedade.
BBB21 e a “valsa” do cancelamento na internet
Com a primeira grande interação deles se voltando no mote de cancelar o cancelamento e se sentir livre para agir de forma transparente, notamos que o que está acontecendo ali, de fato, é uma valsa entre cancelados que se tornam canceladores e vice-versa. E nós, como sociedade, entramos nessa dança, reverberando-a para outras atmosferas que extrapolam a dinâmica do jogo.
Karol Conká e seus amigos nos mostram, com suas atitudes, que diversos papéis coexistem dentro da gente: oprimidos e opressores, cancelados e canceladores. Ninguém é só ‘monstro’ e ninguém é só ‘fada sensata’. Cabe a nós entendermos essa complexidade humana e refletir como muitas das posturas ali mostradas por Karol e seus colegas são representações diretas de violência – talvez um encontro com suas próprias fraquezas.
Como começamos a cancelar as pessoas?
O que chamamos hoje de cultura do cancelamento teve sua força e disseminação amparada no #MeeToo, movimento importantíssimo que amplificava a visibilidade aos milhares de relatos de abuso sexual silenciados e dava suporte para que estas meninas e mulheres soubessem que não estava sozinhas.
Dar luz aos absurdos que sofremos por muito tempo caladas e expor seus agressores foi um marco necessário. Entretanto, quando levamos o discurso do cancelamento na internet ao âmbito de deslegitimar discursos diferentes ou tornar pessoas bodes expiatórios de bandeiras pode ser muito perigoso – e estamos vendo isso diariamente em “horário nobre”. Em tempos de cancelamento na internet não parece muito fácil ser quem a gente quiser ser.
Mas também é nosso dever abaixarmos esse dedo em riste – como ali dentro está sendo feito – e, quando esses cancelados forem eliminados, ampararmos esses seres humanos, abrindo espaços de diálogos para que compreendam onde e como erraram (e muito, eu sei!).
O que você pensa sobre o cancelamento na internet? Discutir e debater é um dos caminhos para aprendermos a respeitar o outro – seja ele quem for.