O horror do casamento precoce
Claro que a essa altura de um ano tão difícil, eu deveria escolher temas mais amenos. No entanto, é quase impossível não ser impactada por denúncias graves como a feita na reportagem Proibido para menores de 16 anos, casamento precoce é naturalizado no Brasil, publicada pela Folha de S.Paulo.
O Brasil ocupa a quinta posição no ranking mundial de casamentos precoces, ou seja, os arranjos que envolvem menores de 16 anos. Naturalizadas no país, uniões desse tipo roubam uma fase importante do desenvolvimento das meninas e criam cenários propícios para aprofundar vulnerabilidades sociais, raciais e de gênero.
Por que naturalizamos o casamento precoce?
Na reportagem da Folha de S.Paulo, Proibido para menores de 16 anos, casamento precoce é naturalizado no Brasil, são relatadas histórias de garotas que largaram a escola para se isolarem em uma típica rotina de cuidados e afazeres domésticos agravada pela gravidez precoce. Sem um projeto de vida que traga autonomia, essas meninas se tornam inteiramente dependentes dos parceiros que, não raras as vezes, são bem mais velhos.
“Naturalizado e subnotificado, tão complexo quanto invisível, o casamento infantil é definido como qualquer união, formal ou informal, que envolva alguém com menos de 18 anos. Em mais de 94% dos casos, esse alguém é menina”.
A matéria foi assinada por Fernanda Mena e Mathilde Missioneiro. O trecho deixa bem claro que se trata de um sério problema que envolve gênero ao deixar em desvantagem meninas e jovens mulheres que têm suas trajetórias limitadas; alteradas.
Um ponto importante trazido pela narrativa é que elas se tornam mais suscetíveis às violências física, psicológica, sexual e financeira – e, justamente por isso, eliminar o casamento precoce é parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade, a fim de que possamos atingir a Agenda 2030 no Brasil.
Está dentro do número 5, que preconiza a importância de alcançarmos a igualdade de gênero e empoderar todas as meninas e mulheres. E, aqui, isso passa por dar oportunidades para as garotas. A evolução social do nosso país depende, inclusive, de criar mecanismos sociais para que essa realidade seja factível.
Como sociedade, devemos combater essa invisibilidade do problema. Há falta de estatísticas sobre o real número de meninas em arranjos classificados no Brasil como amigar, juntar, viver junto, morar junto, amasiar. Não é natural uma menina estar em um “casamento”; não é natural que as meninas negras sejam as mais impactadas pelo problema por uma conjuntura de hiperssexualização e objetificação dos seus corpos. Por traz dessa dinâmica, o país revela mais uma face do racismo, do machismo e da falta de consideração pelas vidas femininas. Não podemos nos calar!
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