Desigualdade salarial no Brasil
A maior oferta de educação não reduziu as desigualdades de acesso entre grupos de todos os níveis! A probabilidade dos filhos de uma família situada entre as 20% mais pobres do país se manterem nesse mesmo estrato social ao chegar à vida adulta é de 46,1%. Já as chances de romperem esse ciclo e serem bem-sucedidos a ponto de ascenderem à base da pirâmide de renda são de somente 2,5%.
A despeito do avanço da oferta de ensino em todos os níveis, 10% dos brasileiros mais ricos permanecem ganhando até 50% mais do que a média dos 50% mais pobres que têm o mesmo nível educacional. Essa diferença, inclusive, ganha contornos mais graves entre homens e mulheres – se ambos têm o nível superior completo, eles ganham em média 100% a mais do que elas; quando a análise recai para o ensino médio completo, o índice a favor dos homens é de 200%; para a o ensino fundamental completo é de 250%. O que esses dados dizem é que embora o nível educacional seja encarado no país como fator de ascensão social, há peculiaridades a serem enxergadas. Em síntese, as pessoas ricas com o mesmo nível educacional das pessoas pobres sempre vão se sair melhor em remuneração; se esse pobre é uma mulher, o desnível é ainda maior, de acordo com análise de um estudo conduzido de 1980 a 2021 pela Universidade de Zurique em parceria com a Universidade de São Paulo (USP).
Esse estudo é muito importante porque nos ajuda a enxergar as peculiaridades ao longo das décadas. Os brasileiros saíram de quatro anos de estudo (em 1980) para 11 anos em 2021; a população adulta ativa que concluiu o ensino fundamental passou de 20% para quase 80%; a parcela de ensino médio avançou de 15% para 66%; no ensino superior, de quase zero para perto de 20%, de acordo com os pesquisadores. O que parece ser uma história na qual a desigualdade caiu, não é bem assim quando olhamos a questão da remuneração nos diferentes grupos. A maior oferta de educação não reduziu as desigualdades de acesso entre grupos de todos os níveis!
Os pesquisadores chamam a atenção para a importância de políticas públicas focadas em reduzir a desigualdade entre grupos; um deles, o feminino. Entre as ações, destacam estimular uma maior participação feminina no mercado de trabalho. E, permanência! O que temos visto é uma dificuldade grande para elas permanecerem empregadas e terem oportunidades reais de chegar a postos de liderança.
Um outro estudo conduzido pela Universidade Federal de Pernambuco aponta que a probabilidade de uma criança ascender socialmente e ter uma renda maior que a dos seus pais ao chegar à idade adulta pode variar enormemente no país, dependendo do local de nascimento. Na região metropolitana de Belém (Pará), as chances de uma criança nascida em uma família com renda abaixo da média se manter nessa faixa na idade adulta é de 63%; na região metropolitana de Florianópolis (Santa Catarina) é de 11,2%. Ou seja, a mobilidade social intergeracional no Brasil é determinada por essa loteria do nascimento.
A probabilidade dos filhos de uma família situada entre as 20% mais pobres do país de se manterem nesse mesmo estrato social ao chegar à vida adulta é de 46,1%. Já as chances de romperem esse ciclo e serem bem-sucedidos a ponto de ascenderem à base da pirâmide de renda são de somente 2,5%. Temos que debater exaustivamente esses conhecimentos trazidos pela academia e transformar números em conhecimento e ações de política pública.
O país do futuro tem que construir um presente digno e promissor para todas as gerações!