A ascensão da digissexualidade: relacionamentos românticos com a tecnologia
Você já imaginou se apaixonar por uma máquina ou casar-se com um holograma? Especialistas em estudos e pesquisas de futuro apontam que algumas das tendências detectadas nos últimos anos foram aceleradas pela pandemia. A digissexualidade é uma delas – que passou de atitude emergente, no início de 2019, para um fenômeno que pauta a atualidade e que foi, em certa medida, normalizado.
Digissexualidade: o que é?
A digissexualidade se refere à prática de forjar relacionamentos românticos reais com a tecnologia, ou seja, as pessoas passaram a confiar mais nas ferramentas tecnológicas para obter amor, intimidade e apoio. Um japonês de 35 anos, por exemplo, se casou com um holograma.
A hipótese para essa expansão comportamental é que a conexão humana foi muito afetada pelo distanciamento social, portanto, seria uma resposta a esse contexto. Mas, o que vem a ser esse fenômeno?
O que dizem por aí da digissexualidade
De acordo com a pesquisa The Buzz: Digisexuals, da WGSN, algumas pessoas passaram a contar com a tecnologia para ter apoio emocional e companheirismo; os que se identificam como digissexuais utilizam tecnologias imersivas – como realidade virtual, robótica e inteligência artificial – para cultivar um relacionamento sem a necessidade física ou emocional proporcionada pela presença de outros seres humanos. A realidade imersiva é, na prática, uma tecnologia a partir da qual é criado um ambiente virtual no qual os sentidos humanos são simulados, de modo que a interação entre o usuário e esse ambiente se aproxima de uma atividade do mundo “real”.
Um artigo dos pesquisadores Neil McArthur e Markie L.C. Twist, ambos da Universidade de Wisconsin-Stout (Estados Unidos), publicado em 2017, já alertava para o impacto emocional dessa modalidade nos relacionamentos, no sexo e na identidade. O texto A ascensão da digissexualidade: desafios e possibilidades terapêuticas aponta que, conforme a tecnologia avança, mais se integrará a diferentes aspectos da vida contemporânea.
De acordo com os especialistas, há duas fases dessa revolução sexual, sendo a primeira a normalização das ferramentas digitais que facilitam a conexão um a um e a estimulação sexual. Aplicativos de namoros, sites de pornografia, salas de bate-papo temáticos estão entre essas modalidades. Na segunda fase, um grupo emergente de indivíduos passou a adotar ferramentas digitais para replicar e substituir a intimidade física e emocional experimentada pelos humanos.
Assim como as pessoas expressam as próprias identidades sexuais, os digissexuais podem ter uma variedade de preferências sexuais – mas, contam com o apoio da tecnologia para promover relacionamentos.
Uma história que exemplifica essa conexão emocional e física com a tecnologia é a do japonês Akihiko Kondo, em 2018. Aos 35 anos, ele se “casou” com um holograma inspirado na cantora virtual Hatsune Miku. Hoje, por ser alimentada pela inteligência artificial que temos atualmente, Miku é imperfeita – não consegue pensar sozinha, limitando o relacionamento. Entretanto, conforme essa tecnologia evolui, esses modelos poderão desenvolver conversas mais naturais, fazendo com que as relações com seres humanos se tornem mais similares às que temos entre nós. Admirável mundo novo!!