Executivas brasileiras nos Estados Unidos
Comentei que tenho diversificado a minha leitura para não consumir somente informações sobre a pandemia do Covid-19. E, nesse processo, gostaria de dividir uma reflexão que surgiu após ler uma notícia sobre profissionais e executivas brasileiras.
No período de 2018-2019, a consultoria Hayman-Woodward, especialista em imigração, contabilizou um crescimento de 80% no número de executivas brasileiras em processo de obtenção de visto de trabalho ou do green card para os Estados Unidos. Com idade entre 32 e 46 anos, elas buscam desafios na carreira, a possibilidade de integrar equipes globais, a vontade de aprender novas formas de trabalhar e oferecer oportunidades para os filhos. Interessante notar que as entrevistadas apontam como desafio construir relações de trabalho ao modo americano.
Enquanto no Brasil desenvolvemos relações pessoais para o trabalho fluir, os norte-americanos têm uma visão mais pragmática: você só é amigo se estudou com esse profissional ou se trabalha há vários anos com ele. E quais os motivos de as executivas brasileiras conquistarem postos importantes de trabalho nos Estados Unidos se, até poucos anos, as solicitações de visto eram para esposas de executivos?
A consultoria aponta o excelente preparo intelectual, confiança e a forma de liderar projetos com equipes multiculturais. A outra face dessa tendência é que o Brasil tem perdido a capacidade de reter talentos – em especial, os femininos. Pelo Índice de Competitividade Global de Talentos, edição 2020, o país ficou em 80a posição entre 132 nações avaliadas. Em relação à edição anterior do ranking, o país caiu oito posições, aparecendo atrás de África do Sul, Azerbaijão e Turquia.
De acordo com a Organização Mundial do Trabalho (OIT), as mulheres representam 49% do mercado mundial; o índice feminino em cargos de liderança – como CEO e diretorias-executivas – no Brasil é de 16%, de acordo com o International Business Report.
Esses números mostram o quanto precisamos evoluir para reter as executivas de alta performance no país. Em um contexto de preconceito extremo e dificuldade para ascender na hierarquia, é natural que haja evasão. Na minha opinião, ver a valorização da profissional brasileira por parte de empresas estrangeiras é muito gratificante; entretanto, será ainda mais significativo quando tivermos essa postura aqui, no Brasil.
| Por Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial