Lembranças "criadas" para o futuro do pretérito
* Por Lourdes Magalhães
Hipoteticamente, como e onde são confeccionadas as lembranças para o futuro do pretérito? Embora a pergunta pareça estapafúrdia, creio que seja legítima – afinal, a desinência “ria”, que caracteriza esse tempo verbal, é empregada também quando não se tem certeza da informação, a exemplo da frase “…ele disse que leria toda a obra de Lewis Carroll”. Trocando em miúdos, estou usando uma alegoria para questionar em que momento de nossas vidas damos “corpo” às lembranças que evocaremos futuramente. Qual é o átimo em que criamos uma boa lembrança relacionada aos livros; ao ato de participar de uma “aventura” literária? Essa reflexão se refere, especificamente, à criação de uma nova cultura em relação ao hábito da leitura em tempos de iPad e de presentes eletrônicos para o Dia das Crianças.
Não por acaso, o primeiro livro disponível para o iPad foi Alice no país das maravilhas – uma delícia para a imaginação infantil e um espanto para os adultos que ainda tentam entender as funcionalidades do aparelho. A despeito do debate sobre o livro impresso versus o eletrônico, o que tem real relevância é incentivar nossas crianças a criar, inovar, arrojar e aprender por meio da experiência da leitura. O número de leitores no Brasil será crescente à medida que toda a sociedade invista em fomentar o hábito entre as crianças. É na infância que a leitura se desenvolve e se consolida. No meu caso, por exemplo, o primeiro livro que eu realmente lembro de ter lido – e que fez a diferença na minha vida – foi Dom Casmurro. O impacto foi tanto que convenci meus irmãos e meu pai a batizar nossa cadelinha de Capitu que, diferente da personagem de Machado de Assis, viveu muito tempo. Creio que desde aquele tempo já era vidrada em livros bem escritos.
Pensando nesse futuro, fiz um exercício de pedir aos autores da Primavera Editorial que relatassem qual foi a primeira experiência que tiveram com os livros. O meu intuito era exatamente “investigar” em qual momento esses escritores se tornaram leitores; saber se foram presenteados com livros e o quanto esse presente determinou o futuro pessoal e profissional. Os relatos de Caco Porto, Edna Bugni, Luis Eduardo Matta, Gilberto Abrão, Joseph Gelinek e Márcio Kroehn fundamentam a certeza pessoal que tudo começou na infância. Embora não publique livros para o público infantil, o tema me é muito caro, porque enxergo nele o futuro do mercado editorial mundial.
Diante da profunda certeza que os livros são capazes de nos levar a outro patamar da civilização – sejam impressos ou eletrônicos – gostaria de sugerir aos pais, tios, padrinhos e avós que deem livros como presente no Dia das Crianças. Ou melhor, que deem boas lembranças para o futuro! Para tornar essa sugestão mais contundente, indico a leitura dos relatos de alguns autores da Primavera Editorial. Boas descobertas!
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