Livros: para ler o mundo e as relações humanas
Sempre acreditei na literatura como uma forma de conhecer mais sobre o mundo e as pessoas. À medida que fui ganhando mais repertório de vida, percebi que ela é uma baita ferramenta para entender a alma e os dramas humanos. Em livros de romance e ficção, situações que, muitas vezes, estão distantes de nós – e que geram dificuldade de compreensão – são mais facilmente assimiladas quando uma personagem vive um determinado desafio pessoal.
Refletindo sobre isso, pensei no tanto de mulheres, por exemplo, que não sabem que são vítimas de relações tóxicas, mas que, por meio da leitura de um romance, começam a perceber padrões similares às apresentadas na narrativa. Acho que o start desse pensamento se deu pelo livro Nem tudo tem que ser seu (All This Could Be Yours, título original) – que a Primavera Editorial acaba de lançar.
Livros de romance e ficção: uma porta para a empatia
Acredito no potencial desse romance de despertar mulheres que estão vivendo esse drama. Na obra, a escritora Jami Attenberg aborda os danos psicológicos de uma relação familiar tóxica, ou seja, é uma narrativa que traz uma exploração oportuna e penetrante do que significa ser pego na teia de um homem tóxico, mostrando como um relacionamento abusivo pode envolver gerações. Em uma perspectiva bastante propositiva, a obra aborda, também, o que é preciso para se libertar.
Sem dar spoiler, o romance tem como personagem principal Alex, uma advogada cabeça dura, mãe amorosa e filha de Victor Tuchman – incorporador imobiliário sedento por poder. Com Victor no leito de morte, ela sente que pode, finalmente, descobrir os segredos do pai e, para tal, viaja para Nova Orleans para estar com a família e, principalmente, com o objetivo de interrogar a mãe, Barbra. Enquanto isso, Gary – irmão de Alex –, está incomunicável, tentando iniciar a carreira no cinema, em Los Angeles. A esposa de Gary, Twyla, está tendo um colapso nervoso, explodindo em choro. A disfunção familiar está no auge! À medida que cada membro da família lida com a história de Victor, eles vão descobrindo uma maneira de seguir em frente, um com o outro, por si mesmos e pelo bem dos filhos.
Esse é um daqueles livros de romance e ficção que impactam, porque você imagina que pode acontecer na realidade, sabe? Em uma entrevista, a escritora e ensaísta Jami Attenberg afirma que Victor é uma pessoa inerentemente solitária – da mesma forma que os narcisistas tendem a ser.
“Por meio da sua solidão, ele justifica o fato de ser mercenário. Ele não acredita na vida após a morte de forma alguma; nunca sente que será julgado. Se fizer algo errado, não importa; a vida é apenas para o próprio prazer ou entretenimento; ele sente a emoção de ser cruel. Para mim, essa é uma mentalidade solitária, mas claro que existem outros personagens para os quais a qualidade de estar sozinho é, pelo menos potencialmente, algo rico e sustentável quase ao ponto de ser uma visão de mundo ou estética”, declarou.
Sobre a motivação para escrever uma obra sobre masculinidade tóxica nos Estados Unidos – e sobre o flagelo do capitalismo, que é um pano de fundo – a autora declarou: “Eu estava interessada em mulheres brancas que votaram em Trump. Certamente é para onde meu olhar está indo agora, mas acho que a cada livro estou tentando descobrir o ‘porque’ dos personagens, e há inúmeras perguntas a serem respondidas no universo. O impacto do patriarcado na estrutura da família americana e nas identidades e psiques das mulheres é um tema de longa data em meu trabalho”.
Recomendo, muito a leitura!!
| Por Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial