Metade do condomínio: o caso da masculinidade tóxica do presidente
Na semana passada, o Brasil assistiu a um dos momentos mais insólitos da história recente da política nacional. Diante do pedido de demissão do Ministro da Justiça, Sérgio Moro, o presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento bem pitoresco – para dizer o mínimo. E, mais uma vez, mostrou como a masculinidade tóxica é presente em seus discursos.
Descontado o contexto atípico e focando no tema que gostaria de abordar, em um dado momento – para explicar uma situação de acusação sobre seu suposto envolvimento com Ronnie Lessa, um dos assassinos de Marielle Franco – ele citou que a relação mais próxima que teria com esse senhor seria por conta do filho Renan, que saiu com a filha de Lessa. Aliás, o filho 04 teria saído com metade do condomínio, mas não se lembrava da tal garota.
No mesmo episódio, ele citou o nome da cientista política Ilona Szabó. No ano passado, ela foi indicada por Moro ao Conselho Nacional de Polícia Criminal e Penitenciária; na sequência, Bolsonaro a exonerou, acusando-a de “abortista” e defensora da ideologia de gênero. Depois de sediar Copa do Mundo e Olimpíadas, parece-me que o Brasil decidiu ser a sede da Idade Média.
Masculinidade tóxica: uma ameaça mortal
É inadmissível que um homem que deveria liderar o país em um dos momentos mais difíceis da nossa história use a voz para disseminar esse machismo tóxico. As animosidades contra as mulheres – Vera Magalhães, Patrícia Campos Mello, Thays Oyama, para citar algumas – têem sido uma constante desse governo, atingindo até mulheres que teriam sido aliadas, como Joice Hasselmann.
A impressão é que esses ataques são apenas cortinas de fumaça para disfarçar a falta de rumo e de propostas claras para o país. Querer passar a imagem de que tem um filho “garanhão” em um momento de extremo desafio para o país é, no mínimo, ridículo. Compartilho de uma importante reflexão de Robin Dembroff, professor-assistente da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Ele afirma que a masculinidade tóxica de Donald Trump e Jair Bolsonaro é uma ameaça mortal para o combate ao novo coronavírus.
Na reportagem publicada pelo UNIVERSA, do UOL, ele defende que ambos presidentes são exemplos claros de homens que se apegam a formas tóxicas de masculinidade; eles atacam qualquer coisa que ameace seus domínios e confiam na misoginia e na violência para reforçar os próprios egos. Nada me parece mais real!
| Por Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial