Mulheres inspiradoras: a incrível história de Hedy Lamarr
O julgamento baseado em atributos físicos nunca sai de moda, né? Infelizmente é algo que repetimos incontáveis vezes ao longo da existência humana. Um clássico é julgar mulheres muito bonitas como fúteis, burras e incompetentes, como se elas não fossem mulheres inspiradoras também.
E, muitas dessas mulheres inspiradoras foram – e são – vítimas desse preconceito até hoje, o tempo todo. Uma delas, cuja história conheci por meio do documentário Bombshell: The Hedy Lamarr Story, de Alexandra Dean, é a atriz Hedy Lamarr. O documentário fala dessa estrela de Hollywood das décadas de 1930 e 1940, que é responsável por uma descoberta extraordinária, além de ser muito bonita.
A bela Hedy Lamarr – ao lado do compositor George Antheil – criou um sistema de comunicação por rádio que, anos depois, foi a base de tecnologias como o Wi-Fi e Bluetooth. Em plena II Guerra Mundial essa mulher decidiu contribuir com uma invenção que pudesse ajudar os Aliados na luta contra o nazismo. Como quase toda história de mulheres inventoras, ela deu a patente a um homem. No caso dela, à Marinha norte-americana que nunca pagou um centavo a ela pela invenção.
Judia e imigrante austríaca, Hedy – conhecida como a mulher mais bonita do mundo – concedeu uma longa entrevista, por telefone, em 1990. Pois é o áudio dessa entrevista que norteia o roteiro desse documentário lançado em 2017. Emocionante! A beleza dela foi um dos elementos desse preconceito. Mas, um ingrediente a mais contribuiu para o descrédito de sua inteligência: ela foi protagonista do filme Êxtase e fez a primeira cena de orgasmo feminino do cinema, com então 19 anos. Ou seja, beleza e transgressão não combinam com inteligência dentro de padrões tacanhas.
Voltando à invenção, uma noite, durante um dueto com Antheil, ela percebeu que ao reproduzir, em outra escala, as notas tocadas pelo pianista, estas emitiam frequências diferentes. Algo que se aplicado pelas estações de radiocomunicação americanas poderia impedir que os nazistas rastreassem códigos e mensagens de guerra – como o direcionamento de torpedos, constantemente interceptados e destruídos pelos inimigos. Essa alternância foi chamada, por ela, de salto de frequência. Genial e eficaz. No entanto, ao apresentar a ideia à Marinha – que classificou a ideia de complexa e cara –, foi aconselhada a ajudar o país, na guerra, de outra forma: fazendo shows para elevar o ânimo das tropas e levantar fundos, vendendo beijos.
Em 1949, Hedy foi eleita pelo Clube de Imprensa Feminina de Hollywood como a atriz menos cooperativa do ano. Acredita?! Ou seja, o preconceito não é uma prerrogativa somente masculina.
O reconhecimento pela contribuição de Lamarr e Antheil veio somente em 1997, quando ambos receberam do governo dos Estados Unidos uma menção honrosa – por abrir novos caminhos nas fronteiras da eletrônica – e um prêmio da Electronic Frontier Foundation.
Cabe ressaltar que Antheil estava morto há quase quatro décadas; Hedy, aos oitenta anos, vivia com uma parca aposentadoria. Não à toa, declarou: “Meu rosto foi a minha ruína” e “Qualquer garota pode ser glamorosa, basta ficar quietinha e parecer burra”. O documentário, que pode ser encontrado no canal Philos, vale ser visto. Combustível para pensar e repensar…
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial