Mulheres na Ciência: a importância da representatividade
Na Academia Nacional de Medicina há cinco mulheres e noventa e cinco homens. Esse é um dado que incomoda, né? Não só nesta área que a diferença entre homens e mulheres é grande. Mas, falar de mulheres na Ciência é sempre emblemático quando falamos sobre a importância da representatividade; do quanto nos inspiramos nas outras pessoas; e do quanto essa inspiração torna mais tangível os nossos sonhos.
Pois, como uma menina vai sonhar ser cientista, astronauta, matemática ou física se não enxerga, na sociedade, mulheres que trilharam esse caminho? Representatividade é mais importante do que pensamos!
Nesse mês de agosto, uma iniciativa que busca essa representatividade chega ao 13ª aniversário. A edição 2018 do prêmio Mulheres na Ciência destacou o trabalho de Ethel Willhelm (Ciências da Vida); Jaqueline Soares (Física); Angélica Vieira (Ciências da Vida); Luna Lomonaco (Matemática); Fernanda Cruz (Ciências da Vida); Nathalia Bezerra (Química); e Sabrina Lisboa (Ciências da Vida). Uma iniciativa da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da UNESCO no Brasil, a premiação luta para promover a igualdade de gênero no ambiente científico. Este ano, as inscrições bateram recorde: 524 cientistas, 34% a mais do que em 2017.
Entre os estudos premiados, temas como a promoção da qualidade de vida para pacientes idosos em tratamento de câncer; usar a pedra-sabão como solução para aperfeiçoar próteses ortopédicas e dentárias; e buscar a alimentação correta para a resistência das bactérias a antibióticos. Criado em 2006, o prêmio já reconheceu o trabalho de mais de 80 pesquisadoras brasileiras.
Ainda sobre representatividade, um exemplo incrível de Jessica Wade – pesquisadora de Física no Reino Unido. A jovem cientista está escrevendo um perfil diário de mulheres ignoradas pela ciência e postando na Wikipédia. Com esse trabalho voluntário, Jessica está trabalhando para que mais meninas escolham carreiras científicas. Como?! Inspirando-as por meio de histórias de mulheres que fizeram história – mas que a História não contou. Parece confuso?! Antes fosse uma mera confusão. Essas cientistas não têm os nomes devidamente conhecidos pela ciência mundial porque tiveram os seus trabalhos registrados por homens.
Aliás, esse é um tema recorrente no livro Wonder Women, de Sam Maggs, que conta 25 histórias de mulheres brilhantes, inteligentes e totalmente disruptivas; mulheres que quebraram barreiras, tornando-se cientistas, engenheiras, matemáticas, aventureiras e inventoras. Por meio dessas histórias empolgantes, entrevistas com mulheres contemporâneas e uma extensa bibliografia, a autora constrói um guia para mostrar as muitas maneiras pelas quais as garotas contemporâneas podem ajudar a construir um futuro brilhante. As iniciativas – de Sam Maggs e Jessica Wade – são igualmente importantes.
A cada 100 biografias produzidas, em inglês, por Jessica para o Wikipédia apenas 17 são sobre mulheres. Na ciência, onde as mulheres já são pouco retratadas, a situação é ainda pior. O que é bonito nessa história é que a própria Jessica Wade recebeu uma inspiração feminina para começar a escrever e postar esses perfis.
Em entrevista ao El País, ela conta que a inspiração veio de uma estudante de medicina, norte-americana. Emily Temple-Wood começou a editar a Wikipédia aos 12 anos e, depois de receber alguns comentários misóginos, decidiu focar a sua ira na produção de mais conteúdo. Ou seja, a casa mensagem abusiva recebida, escrevia uma página sobre uma mulher pesquisadora. Em pouco tempo, esse fenômeno batizado de efeito Keilana (nome usado por Temple-Wood), conseguiu estar entre os melhores artigos biográficos, estando à frente de grupos de colaboradores da rede.
Representatividade é importante! E conhecimento também. Precisamos conhecer as mulheres na ciência, e em todas as outras áreas, que mudaram – e as que estão mudando – o mundo!
Lu Magalhães
Presidente da Primavera Editorial