Mulheres negras e a importância da representatividade
Em um depoimento para Yomi Adegoke e Elizabeth Uviebinené – autoras do livro Brilhe na sua Praia – dra. Maggie Aderin-Pocock contou que quando entra em um táxi e responde à fatídica pergunta sobre a profissão ao qual se dedica, segue à sua resposta um comportamento absurdamente racista e sexista. Mulheres negras não são cientistas espaciais; essa não é uma profissão que faça sentido ou dê conforto emocional para o limitado repertório social. Estamos falando do Reino Unido, do Brasil, dos Estados Unidos e de muitos países e suas formas similares de racismo. Ah, sim… Maggie é cientista espacial.
Em maio, mês que celebramos a abolição da escravatura no Brasil, peço licença para falar sobre um tema abordado por Yomi e Elizabeth, nesse livro. No mundo, enquanto as mulheres brancas temem o telhado de vidro – noção conceitual trazida pelas autoras –, as mulheres negras lidam com o concreto. E, embora o vidro represente um baita desafio, pelo menos dá para quebrá-lo; é possível ver através dele e saber que há algo a se aspirar. Porém, é impossível quebrar um telhado de concreto sozinha, e por isso, precisamos nos apoiar. E mostrar por meio de exemplos, o quanto de mulheres negras e incríveis estão por aí, fazendo história.
Michelle Obama, na Universidade Tuskegee, proferiu o discurso “Ser duas vezes tão bom quanto”, no qual falou sobre o quanto os problemas antigos são teimosos; problemas como a discriminação racial.
Mulheres negras: representatividade para inspirar
Brilhe na sua praia é o fruto de uma inquietação ambientada entre a exasperação e o otimismo de duas garotas negras inglesas. Na obra, as jovens Yomi Adegoke e Elizabeth Uviebinené assumiram o desafio de entrevistar 39 mulheres negras na Grã-Bretanha para contar a jornada de desenvolvimento pessoal de cada uma delas. O resultado é um sucesso editorial no Reino Unido, que traz depoimentos de mulheres bem-sucedidas como Amma Asante, atriz, roteirista e diretora premiada com o BAFTA de Cinema; Vanessa Kingori, diretora de redação da British Vogue; e Denise Lewis, medalha de ouro na Olímpiada de Sidney, em 2000, no heptatlo.
Segundo Yomi, jornalista e uma das autoras, as mulheres negras fazem muito sucesso e, atualmente, estão criando um verdadeiro tsunami feminista. No livro, as autoras destacam a atuação de mulheres que se parecem com garotas negras de todo o mundo: crescem em lugares semelhantes, inovam em todos os setores da sociedade. Da educação ao namoro, o livro inspira ao trazer relatos honestos que celebram os avanços das mulheres negras. Ao mesmo tempo, traz conselhos práticos para as mulheres que querem fazer o mesmo e criar um futuro melhor e visível.
No prefácio, assinado pela doutora Karen Blackett OBE, CEO de uma grande empresa inglesa, a MediaCom, ela salienta que se trata de um livro que conta a história de luta, resiliência e realização. “Eu acredito firmemente que seja preciso vermos algo para sermos algo. Não é de se admirar que meu conselheiro vocacional, anos atrás, achasse que o futuro que eu tinha pela frente era ser enfermeira ou professora. Ele não conseguia ver nada mais além disso para uma jovem negra das Antilhas. Modelos exemplares de mulheres negras simplesmente não eram tão visíveis na época para inspirar nem a ele nem a mim.”
Fica, aqui, a minha sugestão. A leitura do Brilhe na sua Praia como forma de entender o impacto do racismo e conhecer mulheres que estão vencendo os desafios. Uma baita inspiração!
| Por Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial