O avanço feminino no setor do agronegócio
O total de mulheres trabalhando em empresas do agronegócio cresceu 13,3% no último ano, de acordo com uma pesquisa da Deloitte. Apesar do avanço, as mulheres representam somente 16,2% do contingente empregado no setor.
Na década de 1960, minha avó se viu viúva aos 61 anos. Em um Brasil profundamente machista – e que esperava que uma mulher sessentona estivesse somente aguardando a morte –, ela mostrou o quanto aquela sociedade estava completamente enganada a respeito das mulheres prateadas (termo que só surgiu recentemente, mas que ela, definitivamente, teria adorado!). Herdeira de uma fazenda de café no interior do Estado de São Paulo, era esperado que vendesse as terras ou passasse a administração aos homens da família. Nada disso. Ela assumiu o controle e tornou o negócio lucrativo. Essa história familiar me veio à cabeça quando li que o total de mulheres trabalhando em empresas do agronegócio cresceu 13,3% no último ano, de acordo com uma pesquisa da Deloitte.
Apesar do avanço, as mulheres representam somente 16,2% do contingente empregado no setor, de acordo com o 7º Congresso Nacional de Mulheres do Agronegócio. Um olhar criterioso para esses dados mostra que, nas fazendas, as mulheres já ocupam 34% dos cargos de liderança – uma porcentagem maior do que a encontrada no universo geral da economia, no qual ocupamos 27% dos postos de comando. Embora o aspecto cultural ainda conte muito, vemos que há uma ascensão feminina em setores considerados predominantemente masculinos!
Entre as 400 entrevistadas, 76% afirmaram que o maior empecilho para o aumento da contratação feminina no agronegócio é cultural; 41% das que já atuam no setor afirmaram sofrer questionamentos sobre a capacidade de trabalho que têm – apesar de serem em maior número no tocante ao ensino superior: 9% delas, enquanto a porcentagem de homens é de apenas 3%. Sobre a capacidade física, vale lembrar que, com o ingresso da tecnologia no campo, muitas das atividades deixaram de ser braçais. Há dois pontos delicados, levantados pela pesquisa: o primeiro, com relação à questão da remuneração – enquanto elas recebem, em média, R$ 1.606 mensais, eles têm um salário de R$ 1.950 –; o segundo, no alto índice de demissão nos 12 meses seguintes à licença-maternidade, que é de 35%.
Na prática, há muito por transformar e conquistar, mas a minha avó ficaria orgulhosa de ver que estamos avançando.