O machismo “inofensivo” da moda: wife beater, baby doll e outros termos
A moda está vivendo um período de questionamento. Não só a moda, mas tudo, aliás. De inofensiva, a arte passa a revisar a possibilidade de ser instrumento do machismo. Exagero?! Bom, basta olharmos alguns termos usados para nomear algumas peças de roupa feminina: “tomara que caia”, “baby doll” ou “boyfriend”, usados para designar peças do vestuário feminino. O que você acha?
Se acha a correlação extremamente crítica, pense em uma regata branca masculina, popularmente conhecida como wife beater (espancador de mulher). Pesado, né?
De acordo com pesquisadores, em um artigo do The New York Times, o “batismo” da peça pode ter surgido após um episódio de violência doméstica, em 1947, em Detroit. Um homem – que matou a esposa a pauladas – foi fotografado, no momento da prisão, trajando o modelo.
Machismo na moda: sobre julgar mulheres pela roupa que vestem
Óbvio que muitos dirão que associar roupas à violência contra a mulher é um exagero das feministas de plantão; e que esse tipo de machismo é inofensivo. Por que, então, uma pesquisa do Datafolha mostra que um em cada três brasileiros acredita que a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar de ser estuprada?
Ou seja, o ponto é que a moda se torna um argumento que explica a violência somente quando interessa aos conservadores, quando pode ser usada como instrumento para o julgamento do comportamento feminino. Uma visão bem parcial, né?
Não por acaso, no filme Um bonde chamado desejo – de Elia Kazan, lançado em 1951 – o jovem Marlon Brando interpreta um marido abusivo que vestia, em cena, a tal wife beater.
Essa “revisão” dos termos que classificam modelos de roupas propõe uma alteração no vocabulário da moda moderno, pois algumas dessas classificações mostram inequívoca misoginia. Esse tal machismo na moda não é nada inofensivo.
Outras formas de preconceito além do machismo
Para quem ainda vê inocência no ato de vestir, cito um outro exemplo. Mahershala Ali – ator que conquistou dois prêmios Oscar pela atuação por Moonlight e Green Book – conta, em entrevistas, que aprendeu a se vestir bem desde criança. “Sempre fui consciente de como ser negro é algo que fala por mim antes mesmo de eu abrir a boca”, conta.
Hoje ele é embaixador da marca Zegna, e diz que não há muito espaço na moda para pessoas negras, por isso, o convite para ser a imagem da grife italiana é tão importante.
Na minha opinião, longe da pecha de fútil, a moda é um importante veículo social e pode sim liderar questionamentos essenciais, para a construção de uma nova sociedade — bem menos machista.
Leia mais neste artigo da Folha de S. Paulo.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial