Onde buscar forças para reagir?
Será que é tão simples ter forças para reagir? Em uma entrevista para a Revista Claudia, a apresentadora Angélica falou sobre um episódio de assédio sexual que sofreu, em Nova York, aos 18 anos. Segundo ela, “empurrei, bati nesse e saí do carro; foi uma situação bem escrota, deu para sentir como deve ser difícil quando você não tem forças para reagir”.
E essa pergunta ficou ecoando por aqui: será que é tão simples reagir frente a qualquer ameaça? Essa força, citada por ela, foi o start para uma reflexão profunda e um debate que envolveu a equipe da Primavera Editorial: afinal, onde buscar forças para reagir quando esse impulso não é nato?
Recentemente, o Fantástico veiculou uma reportagem sobre episódios de abusos sexuais cometidos por um médico clínico geral que atendia policiais militares; mulheres armadas e treinadas. Ele, tenente-coronel conhecido como Doutor Bacana, molestava as oficiais dentro de consultórios médicos de unidades militares no Paraná.
Muitas delas – recrutas, soldados, cabos, esposas e filhas de policiais militares – relataram a falta de reação diante do abuso. Mas, bastou a denúncia de uma para o estopim: quase 40 mulheres também reportaram o abuso.
Você pode se perguntar: por que elas não tiveram forças para reagir antes? Ou, pior dizendo: que tipo de mulher não reage? Porém, essas podem ser perguntas no formato acusação que, na minha opinião, são muito perigosas.
Essa força que encontramos uma na outra para escapar do “congelamento” tem sido tema de amplo debate. Especialistas apontam que encontramos forças para reagir quando existe a certeza – ou uma simples esperança – de que reagir trará bons resultados. Ao mesmo tempo, são séculos de silêncio, julgamentos e negação. Muitas vítimas têm medo de não serem acolhidas devidamente, ou seja, serem julgadas como culpadas da violência sexual que sofreram. Outras, mulheres, mais jovens, podem não saber identificar um assédio.
Ressalto que ter forças para reagir vai além de um ímpeto comportamental. Passa, ainda, por uma estrutura de poder medieval que deve ser quebrada; passa pela necessidade de construirmos redes de mulheres solidárias e atentas. No caso dessas policiais militares, juntas elas encontraram forças para reagir e se rebelar em uma estrutura de poder na qual o abusador tem mais força institucional ou corporativa.
Forças para reagir: uma solução simples
Na construção de uma sociedade com mulheres ocupando espaços de poder – e profundamente identificadas com a causa feminista – está a resposta para esse “buscar forças para reagir”. Afinal de contas, a força de uma de nós pode alimentar muitas, quando conectadas em rede.
São os exemplos que ensinam outras mulheres a se empoderarem da própria história e encontrarem forças para reagir – quando se sentirem ameaçadas.
Uma história pode sim inspirar novas histórias. Vamos pensar sobre isso?
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial