Os impactos psicológicos da pandemia
Especialistas de diversas áreas do conhecimento permanecem na busca por respostas sobre os impactos da pandemia nas diferentes dimensões da vida humana. O impacto emocional, entre eles, tem sido objeto de pesquisas sérias e que podem nos ajudar a compreender um pouco dos danos com os quais teremos que lidar – sejam eles temporários ou permanentes.
Um estudo coordenado por Angelina Sutin, professora da Universidade Estadual da Flórida (Estados Unidos), aponta que a pandemia mudou personalidades. Na prática, os principais traços de personalidade foram atenuados, deixando-nos menos extrovertidos e criativos; não tão agradáveis e menos conscienciosos. Esses declínios equivalem a cerca de uma década de mudança normativa de personalidade, de acordo com o estudo. As pessoas com menos de 30 anos, participantes do mapeamento, exibem “maturidade interrompida”. Os pesquisadores afirmam que se essas mudanças forem duradouras – o condicional é por conta da possibilidade de a descoberta ter captado um momento instantâneo no tempo, ou seja, probabilidade de ser temporária –, essa evidência sugere que eventos estressantes em toda a população podem alterar levemente a trajetória da personalidade, especialmente em jovens adultos.
Os autores do trabalho liderado pela professora Angelina se basearam em dados do Understanding America Study (Estudo de Compreensão da América), um painel de internet conduzido desde 2014 pela Universidade do Sul da Califórnia e que conta com cerca de sete mil participantes. Para o estudo, os pesquisadores analisaram cinco dimensões da personalidade: neuroticismo; tolerância ao estresse e a emoções negativas; abertura (definida como não convencionalidade e criatividade); extroversão (quão comunicativa a pessoa é); amabilidade (ser confiante e direto); e conscienciosidade (quanto a pessoa é responsável e organizada).
É importante salientar que os autores foram bastante cautelosos com as conclusões, sobretudo porque estamos diante de uma experiência coletiva completamente nova – na qual tivemos uma reestruturação das rotinas, remodelando a personalidade das pessoas diante de um novo cotidiano. Terapeutas ouvidos pela reportagem do New York Times apontam que tiveram muitos analisandos com dificuldade em navegar pelos limites da vida pandêmica e lidar com as vicissitudes das normas sociais. No processo de “reintegração social”, muitos relataram desconforto crescente, sobretudo do ponto de vista da retomada da interação social.
Entre os com até 30 anos de idade, as quedas em conscienciosidade e amabilidade, de acordo com a pesquisa, foram mais acentuadas do que em outros grupos etários. Talvez porque quando todo o mundo dessa pessoa (que não tinha acumulado, anteriormente, experiências presenciais e habilidades de enfrentamento) se transfere para o espaço virtual, ela perde o campo de treinamento para ser mais consciente – além de treinar o apego, a conexão e a interação. De acordo com os especialistas ouvidos pelo estudo, ficamos tão acostumados com o isolamento que agora temos a impressão de que o adoramos.
E, aqui, cabe a investigação de quem realmente somos, do que de fato gostamos.