Quanto mais filhos, menor o salário das mulheres brasileiras
Um levantamento da IDados –compilado a partir do mapeamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) – apontou que enquanto as mulheres sem filhos ganham, em média, R$ 2.115 por mês, as que se tornam mães enfrentam uma redução de 24% no salário. Se essa profissional optar por aumentar a família – digamos três ou quatro crianças – a queda de rendimento salarial pode chegar a 40%. A conclusão leva em consideração trabalhadoras brasileiras casadas, com idade entre 25 e 35 anos; estamos falando de um contingente de 2,92 milhões de profissionais e mães contra 1,36 milhão de mulheres sem filhos.
As entrevistadas sem filhos revelam que o fato de terem casado mais velhas pode ter influenciado na ascensão da carreira. Óbvio que são mulheres preparadas intelectualmente e competentes, mas o fator “ser-solteira-sem-filhos” foi determinante para o sucesso. É inacreditável! Especialistas em recursos humanos creditam esse contexto à fatores socioculturais, falta de acesso a creches e dificuldade em conciliar os cuidados familiares com o aprimoramento profissional. Dizem que essas contingências, juntas, explicam a desigualdade salarial entre as mulheres. Da minha parte, continuo a não entender. Essa elaboração pode até explicar, mas não justifica. Inclusive, não abona a falta de políticas públicas pensadas para manter a mulher no mercado de trabalho.
Quer um exemplo? No Brasil, em 2017, apenas 32,7% das crianças de zero a três anos estavam matriculadas em creches públicas. Ou seja, mais uma vez o Estado falha miseravelmente com as mulheres. Não por acaso, muitas optam por empreender para conciliar os dois mundos, mostrando que são capazes de ter filhos, família e gerar negócios inovadores e rentáveis. É típico do comportamento feminino criar oportunidades onde elas não existem. Se não nos dão oportunidades e empregos, nós os criamos do nada. Aliás, gestar e criar é a nossa especialidade. Digo isso, sem falsa modéstia.
No entanto, gostaria de chamar a atenção dessas mulheres sem filhos, que ascenderam na carreira. Que tipo de chefe vocês se tornaram?! Que tipo de políticas de gestão de pessoas estão influenciando dentro das organizações – e cobrando – para que todas as mulheres tenham chances iguais? Como você pode mudar essa realidade de desigualdade salarial? A questão aqui é como cada uma de nós está pensando no todo. Não basta vencer em um cenário adverso de machismo estrutural; a questão não é individual – sim, coletiva. Vamos pensar (e agir) sobre isso?!
Lu Magalhães
Presidente da Primavera Editorial