Sobre o feminino traumático e outros temas
Uma vulva ferida com 33 metros é uma das mais recentes obras da artista plástica Juliana Notari. A escultura “Diva” – esculpida no chão do parque botânico-artístico Usina de Arte, localizado em Água Preta, Pernambuco – causou alvoroço na internet ao discutir sobre o “feminino traumático”.
Uma peça com o poder de trazer à tona debates como misoginia, transfobia, controle de corpos, interseccionalidade, direito ambiental e trabalhista, destinação de recursos para a arte e, sobretudo, o impacto de uma vulva na sociedade brasileira.
O papel da arte sobre o feminino e outros temas
Vale lembrar que os comentários foram tanto positivos, quanto negativos! De acordo com Juliana, há duas décadas ela tem criado peças e produzido performances sobre a temática. A despeito da beleza da obra, gostaria de comentar sobre as críticas feitas, quando as fotos foram publicadas nas redes sociais pela artista.
Uma das polêmicas levantadas foi o fato de a instalação da obra demandar “desmatamento”. Prontamente, Juliana lembrou que o espaço da Usina da Arte era, anteriormente, destinado ao cultivo da cana de açúcar, ou seja, não é um bioma rico. Uma segunda questão foi o uso da força de trabalho de negros para a instalação de uma peça de uma artista branca. Para essa crítica, a resposta é que o processo de instalação não é totalmente controlado por ela.
“O processo vai além de mim. É uma conta grande, a qual não consigo segurar, de um passo escravocrata e colonial, que não fez reparação nenhuma”, afirmou. O terceiro ponto, que acho bastante relevante, é sobre o fato de que nem toda a mulher tem vagina. Nesse caso, Juliana respondeu que ao falar da vulva não anula as mulheres trans. Ela, inclusive, chamou a atenção para essa ideia de “disputa”. De qualquer forma, de maneira bastante ponderada, comentou que vai considerar as críticas construtivas nos próximos trabalhos.
Em um dos comentários, uma das leitoras destacou o fato de a obra trazer à tona debates como misoginia, transfobia, controle de corpos, interseccionalidade, direito ambiental e trabalhista, destinação de recursos para a arte e, sobretudo, o impacto de uma vulva na sociedade brasileira. Genial! Eis que temos um dos papéis mais nobres da arte: fazer pensar!
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial.