Sobre o machismo e a desigualdade de gênero: os homens não são o inimigo
Quando uma mulher abre um diálogo franco sobre o machismo, ela abre um baú de lembranças da própria trajetória.
Não são memórias propriamente boas ou ruins, mas experiências que nitidamente tornam tangíveis o quanto a sociedade se pauta pela desigualdade entre os gêneros.
Foi o que aconteceu comigo. Mas de maneira diferente da maioria.
Mais de uma vez, diante de histórias femininas sobre o preconceito e discriminação, pensei ter uma imensa sorte; acreditei que tinha passado ao largo de comportamentos sexistas indesculpáveis. Filha única de uma família com três garotos, nunca senti a discriminação por parte dos meus pais; nunca ouvi que não poderia ter ou realizar determinada coisa por ser mulher.
Embora tenha me graduado em Matemática não senti olhares incrédulos pela minha vocação e escolha. Acreditei nisso até o momento que abri a “caixa de Pandora”, uma alegoria que escolhi para classificar a leitura do livro Escute o que ela diz, de Joanne Lipman. A obra desnuda o viés inconsciente, ou seja, o que os homens precisam saber (e as mulheres têm a dizer) sobre trabalhar juntos.
A caixa de Pandora abriu: sobre o machismo estrutural
Na década de 1990, liderava – com um colega homem – um projeto de implantação da área de tecnologia da informação em uma grande empresa multinacional.
O presidente da companhia nos “convidou” a ajudar a família a instalar programas no computador da casa. Claro que esse é o tipo de convite que um profissional não pode recusar. Lá fomos, fora do horário de expediente, cumprir a tarefa. Passado um tempo, no final do ano, o chefe quis nos agradecer com um presente.
Ao meu colega, um whisky importado; a mim, uma presilha de laço. Nada a ver com o meu estilo! À época, achei que o presente era simplesmente equivocado; uma falta de gosto; um erro banal. Jamais associei esse episódio ao viés inconsciente e ao machismo estrutural.
Escute o que ela diz é um daqueles livros transformadores que devem ser lidos por pessoas dispostas a repensar a vida corporativa e em sociedade.
Um livro sobre igualdade de gênero e o machismo presente nas empresas
Nas entrelinhas de capítulos com títulos provocativos – A vida secreta das mulheres; O sucesso dela é o seu também; Todo mundo é meio sexista; As doze palavras mais terríveis do idioma inglês; Mulheres invisíveis; Qual o melhor lugar do mundo para uma mulher? e O futuro é agora – a autora convoca homens e mulheres a trabalharem juntos pela diversidade, em prol da equidade salarial e por oportunidades iguais. Defende que a real diversidade é boa para todos; que melhora os resultados da sociedade e das empresas.
Com uma linguagem leve, divertida e assertiva, Joanne nos convida – homens e mulheres – a repensar posicionamentos e comportamentos cotidianos.
Mostra que os treinamentos em diversidade não estão dando conta da complexidade do viés inconsciente do machismo; fala sobre a importância de construir uma nova cultura corporativa.
Como podemos transformar as relações de trabalho?
Esse é um livro que interessa não apenas às mulheres. Milhões de homens têm demonstrado que estão prontos e dispostos a mudar o jogo. Eles são aliados em potencial para promover essa transformação social.
Os homens – como Joanne afirma no prefácio do livro – não são o inimigo. Vamos, juntos, construir uma nova história pautada pela igualdade?
Lu Magalhães, Presidente da Primavera Editorial