Sobre o plágio de Cristiane: o processo da autora de best-sellers Nora Roberts
O título desse artigo não é alusivo à obra de Franz Kafka, O processo, mas a uma notícia que deixou o mercado do livro perplexo. A escritora de best-sellers Nora Roberts anunciou que está processando por plágio, na justiça brasileira, a autora Cristiane Serruya; vocês viram?
Segundo a norte-americana – autora de livros de grande sucesso como A Mentira, Hoje e Sempre, Encanto da Luz e Ilha de Vidro –, trechos de 10 livros foram copiados ou parafraseados pela brasileira. No processo, ela pede US$ 25 mil de indenização em danos morais, além da retirada dos livros com as citações.
Vale ressaltar que o dinheiro obtido com o processo será, segundo Nora, doado para uma organização literária nacional.
#CopyPasteCris: sobre o plágio da brasileira
O surreal da situação está na resposta de Cristiane: ela credita a culpa a uma ghostwriter da agência Fiverr contratada por ela.
As obras no centro da confusão são Royal Love, Royal Affair, Unbrokenlove, Hotwinter, Forevermore e Baroness’s diary. Nora contou que descobriu sobre o plágio ao usar o programa Grammarly, que identificou diversos trechos que reproduzem literalmente a obra original.
Leitores de língua inglesa já tinham apontado semelhanças em obras de Cristiane Serruya – que escreve em inglês – com livros de outras escritoras como Tessa Dawn, Courtney Milan, Loretta Chase e Lynne Graham; mais de 40 escritores e 100 livros estão envolvidos no caso que gerou a criação da hashtag #CopyPasteCris.
Se há vários escritores, por que apenas Nora Roberts está processando a autora brasileira? Segundo ela, porque os outros escritores não têm dinheiro para lutar.
O que leitores podem fazer?
A notícia me fez pensar sobre o papel dos leitores. Aliás, o papel do consumidor. Diante da informação da falta de ética nos processos de produção e comercialização, qual é o papel de quem consome produtos ou serviços? A questão central é como transformar o arsenal de informação que temos, hoje em dia, em comportamento. Como ir do discurso à prática? Nesse contexto do processo movido por Nora Roberts, em específico, vemos que muitos leitores deram alertas; apontaram a falta de ética na produção de um conteúdo.
São leitores atentos, qualificados e engajados. Mas, diante de uma situação como essa, podemos ir além: boicotar comportamentos desrespeitosos com a propriedade intelectual. Deixar de consumir. Mais do que um livro ou um produto, queremos consumir uma postura ética.
Consumir livros também deve ser um ato político!
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial.