Tendências para o mercado editorial em 2021
A leitura tem se tornado uma espécie de terapia com a pandemia e o isolamento. E esse comportamento refletiu no mercado editorial como um todo – e nas tendências para 2021.
Vale destacar alguns fatos interessantes sobre os hábitos de leitura de 2020 para analisar o que vem pela frente; o que esperar dos livros e um pouco das tendências para o mercado editorial em 2021.
Mercado editorial na pandemia
Já é evidente que a pandemia mudou nossas preferências de leitura. E isso ficou bem claro ao comparar uma pesquisa do Reino Unido de 2019, feita pela Kate Nash Literary Agency,
Os leitores foram questionados sobre quais tipos de livros gostavam de ler. Os resultados variavam entre livros que pareciam sombrios e perigosos, livros com monstros míticos, livros onde o inimigo poderia estar à espreita na porta ao lado ou qualquer coisa que tenha a palavra “psicológico” no slogan. No entanto, os resultados da pesquisa das tendências de leitura de 2020 pareceram muito diferentes e afetaram o mercado editorial e seus lançamentos seguintes. Os leitores estavam interessados em capas com desenhos e cores brilhantes que representavam leituras aconchegantes, livros sobre autoconhecimento, sobre ficção científica, sobre o futuro… ou livros que não representavam qualquer ameaça, livros para os quais eles poderiam escapar.
Houve uma mudança radical na semiótica das capas de livros populares, bem como três razões principais pelas quais as pessoas estavam lendo:
As pessoas estão lendo com medo. As pessoas estão lendo para escapar da realidade e as pessoas estão lendo sobre como ajudar os outros.
“Os leitores estão se voltando para livros alegres e escapistas, bem como livros sobre pandemias, política e apocalipse, mas os leitores também falaram muito sobre histórias sobre apoiar e ajudar os outros: homens pedindo ajuda, mulheres apoiando mulheres e histórias sobre bondade e família. Em total contraste com nossa pesquisa de 2019, que identificou a tendência de capas de livros escuras e ameaçadoras, os leitores agora percebem que as capas dos livros estão ficando mais brilhantes e identificam os livros representativos do agora com uma semiótica muito diferente: azul, branco, claro, aconchegante, sem ameaça. ” (Kate Nash)
As tendências para o mercado editorial em 2021
Em todo o mundo, na última década, testemunhamos uma indústria transformada por novas forças econômicas, inovações tecnológicas e atitudes do consumidor. Mas, depois de um ano atípico, muita coisa está em plena transformação. O principal ponto positivo durante esta década de destruição do varejo foi a ressurreição das livrarias independentes; e além delas, todo mundo começou a ouvir audiolivros.
Segundo matéria do Washington Post, o mercado de audiolivros teve aumento de dois dígitos em quase todos os anos na última década. Em 2020, metade de todos os americanos com 12 anos ou mais disse ter ouvido um audiolivro.
No Reino Unido as tendências recentes incluem ligações de muitos tipos, incluindo histórias de TV e holocausto, folclore e magia, cenários litorâneos e de férias, além de histórias de diversas origens e histórias com personagens femininas fortes. E, tanto no Brasil quanto no mundo, a ascensão das mulheres na literatura foi um grande destaque.
Tanto aquelas que escrevem, quanto as protagonistas das histórias; de romances de ficção a histórias reais, passando pelos livros de poesia e empoderamento feminino, como o incrível A princesa salva a si mesma neste livro, de Amanda Lovelace, colocaram as mulheres em evidência na literatura.
Além de mulheres protagonitas, uma outra tendência do mercado editorial são os livros que abordam temas sobre racismo. “How to Be an Antiracist” de Kendi, “White Rage” de Carol Anderson, “White Fragility” de Robin DiAngelo e “So You Want to Talk About Race”, de Ijeoma Oluo ficaram entre os mais vendidos nos EUA. No Brasil, entre os mais lidos na Amazon, o primeiro lugar ficou com Pequeno Manual Antirracista, da filósofa e ativista Djamila Ribeiro. A obra trata, em seus 11 capítulos, de temas como racismo, negritude, branquitude, cultura e atualidade
Outra tendência para 2021 é a literatura erótica. Depois do sucesso, principalmente entre o público feminino, da trilogia Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades), escrita por E. L. James e publicada originalmente por uma pequena editora australiana, o gênero vêm conquistando espaço nas estantes longe das sombras. O sucesso da trilogia ajudou a criar um mercado viável para inúmeros outros romancistas que escrevem ficção erótica. E promete aquecer o mercado editorial neste ano.
Mulheres protagonistas: uma tendência mundial
Em 2005 começava uma grande mudança no mercado editorial mundial quando a editora sueca do primeiro romance de Stieg Larsson chamou-o de “Man som hatar kvinnor” (“Os homens que não amavam as mulheres”). Quando foi publicado em inglês, o título foi transformado em “The Girl With the Dragon Tattoo“. Esse fenômeno “Girl” anunciou uma nova classe de mulheres talentosas invadindo o antigo “clube do bolinha” e mudando as regras do jogo do mercado de livros mundial. Essa mudança definiu à tinta uma tendência que se espalharia ao longo da próxima década e que continua em 2021.
Em 2020, o projeto BBC 100 Women destacou as mulheres que estão liderando mudanças e fazendo a diferença nesses tempos conturbados de pandemia de coronavírus, crise econômica, avanço da fome e mudanças climáticas. Duas brasileiras estão entre as eleitas: Cibely Racy, professora pioneira no ensino da igualdade racial, e Lea T, modelo transexual. E algumas escritoras estão nessa lista: Tsitsi Dangarembga, escritora e cineasta do Zimbábue, Muyesser Abdul’ehed, que atende pelo pseudônimo Hendan, Fang Fang, cujo nome verdadeiro é Wang Fang, Nadine Kaadan, escritora e ilustradora síria.
Arte que inspira arte: livros que inspiram séries e filmes
A proliferação de plataformas de streaming de TV durante esta década criou novas oportunidades para escritores de ficção e promete aquecer o mercado editorial nos próximos anos. “Game of Thrones”, “The Handmaid’s Tale” e “Outlander” viraram vício de muitos e lideraram essa tendência. Mas não só ficção: livros de memórias como “Orange Is The New Black” de Piper Kerman e “Shrill” de Lindy West encontraram nova vida na televisão.
E, os fãs de ficção científica e fantasia foram recompensados com uma galáxia de novas séries, incluindo “The Expanse” de James S. A. Corey, “American Gods” de Neil Gaiman e “The Magicians” de Lev Grossman.
Essa tendência se acelerou conforme a década se aproximava do fim, com anúncios de que o ganhador do National Book Award de Susan Choi, “Trust Exercise” e o ganhador de Booker de Richard Flanagan, “Narrow Road to the Deep North”, serão transformados em série.
O que é mais bacana nessa tendência é a forma como esses programas de TV enviam as pessoas de volta aos livros originais, criando um círculo virtuoso de assistir e ler. Por exemplo, lançada no Natal de 2020, a série Bridgerton teve tanta repercussão com os assinantes da Netflix que rendeu um fenômeno curioso. Nesta semana, a relação dos livros mais vendidos do jornal New York Times listou a série de livros da autora Júlia Quinn.
Viu só como os livros inspiram novas histórias? Veja aqui os livros que vão virar séries e filmes em 2021 e já comece a ler antes de assistir.
Aqui na Primavera Editorial, estamos aquecendo os motores para começar nosso ano com muitas histórias. Muitos livros e muitas mulheres reunidas, e ainda mais inspiração para quem também sabe que a leitura é poderosa — e fundamental para evoluírmos; para sermos nossa melhor versão.
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Camila Brogliato, jornalista e gerente de conteúdo na Primavera Editorial.