O vírus da desigualdade de gênero nos trabalhos domésticos
O vírus da desigualdade de gênero tem infectado a sociedade brasileira muito antes da pandemia da covid-19. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) apontam que mais de 10 horas por semana é a quantidade de tempo que diferencia a dedicação de mulheres e homens aos afazeres domésticos.
Ou seja, esse é o número de horas que evidencia a desigualdade de gênero dentro dos lares. Em 2019, nós trabalhamos semanalmente, em casa, praticamente o dobro do que os homens. São 21,4 horas semanais, em média. Eles, por sua vez, dedicam 11 horas. No Nordeste está o índice mais escandaloso: 10,5 horas para eles e 21,8 horas para elas.
Desigualdade de gênero e racial: desafios
Embora o levantamento mostre que os números melhoraram entre 2016 e 2019 – saltou de 71,9% para 78,6% a parcela de homens que realizam tarefas domésticas – a desigualdade é gritante. Há, nesse cenário, um absurdo ainda maior: a desigualdade racial. Entre as brasileiras, as pretas e pardas – critério do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – são as que mais assumiram as tarefas domésticas. Elas têm a marca de 39% contra 33,5% das brancas.
Mesmo as mulheres que trabalham fora, há uma assimetria na divisão de tarefas: elas dedicam oito horas a mais, conforme mostra a reportagem do Valor Econômico. Com uma jornada semanal de 53,3 horas – sendo 34,8 horas no emprego e 18,5 horas dedicadas aos cuidados da casa – a divisão das tarefas domésticas é desigual. Importante notar que delegar às mulheres uma maior carga de trabalho doméstico é algo que começa cedo. A pesquisa revela que 84,4% das filhas são mais demandadas do que os filhos ou enteados (66.5%). Na prática, esse comportamento tem todos os ingredientes necessários para perpetuar a desigualdade de gêneros.
Mulheres, vamos falar sobre isso?
| Por Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial