Você sabe identificar um assédio sexual no ambiente de trabalho?
O tema é polêmico, reconheço. Muitas leitoras podem achar que é uma bobagem fazer essa pergunta, pois o assédio sexual no trabalho é claro e evidente. Porém, com base em análises, pesquisas e conversas com mulheres, para formar um repertório consistente sobre o assunto, pelo contrário. Estou convencida que esse é um tema pantanoso e nada óbvio.
O assédio sexual no ambiente de trabalho não acontece somente de maneira explícita. E não é fácil perceber, muitas vezes. Um exemplo recente dos meandros que envolvem o assunto veio de uma profissional mexicana, que atua na Califórnia (Estados Unidos). A empresa na qual trabalha solicitou que ela fizesse um teste – previsto para todas as mulheres da companhia – que revela o nível de conhecimento dessas profissionais para identificar um assédio sexual no ambiente corporativo.
O que aconteceu? Essa profissional me pediu ajuda para analisar algumas questões. A que me chamou mais atenção foi: “Se o chefe direto der um abraço em você por ocasião do seu aniversário, isso seria assédio?”. Hum… complexo, não? O que você acha?
Assédio sexual no trabalho: questões culturais
Considerando que a empresa está em território norte-americano, esse é o tipo de pergunta comum à cultura deles. Porém, quando pensamos em México e Brasil, será que esse comportamento é totalmente suspeito? Ou aqui, como temos um outro jeito de se relacionar com o outro, o abraço seria permitido? Qual é o grau de aperto envolvido nesse abraço? Quais são as sutilezas que podem determinar ou não esse julgamento? Complicado, não?
Como identificar o assédio sexual no trabalho
Em conversa com especialistas em gestão de pessoas, inclusive autores de livros publicados pela Primavera Editorial (ouça aqui um papo sobre o assunto e o livro Escute o que ela diz), detectei dois comportamentos-padrão que não deixam dúvida sobre o assédio sexual. O primeiro deles fala de profissionais que criam situações, sistematicamente, para ficar sozinhos com a mulher. Por exemplo, reuniões fora de hora e com objetivo impreciso, pretextos de conversas profissionais inconsistentes – esses são alguns dos sinais que devem despertar um alerta.
O segundo são os comentários grosseiros e toques inadequados. Imagine aqueles homens que ao conversar sempre dão um jeito de tocar na mulher; abraços demorados e apertados demais – quando a profissional não deu nenhuma abertura para tal. Além disso, outra coisa que deve ser levada em conta: o nível hierárquico superior ao da vítima; entretanto, há assédio sexual cometido por profissionais em cargos similares ao da mulher. Esses são os chamados assédio sexual por intimidação.
Ou seja, temos que analisar todo o contexto. Mas, é importante saber que o assédio sexual no trabalho envolve qualquer provocação, proposta ou chantagem manifestada por palavras (assédio sexual sem contato físico); por gestos feitos pessoalmente ou em meios eletrônicos: e-mail, redes sociais ou WhatsApp.
O assédio sexual é crime e deve ser denunciado. Para mais informações, recomendo o vídeo Como identificar o assédio sexual no trabalho, produzido pelo Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina, que entrevistou a advogada Manoella Keunecke.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial