
A falsa equidade de gênero nos espaços de poder
Durante alguns anos, debatemos fortemente o greenwashing – em livre tradução, lavagem verde; prática caracterizada por uma abordagem mentirosa de iniciativas corporativas associadas à sustentabilidade. Nessa ótica, o marketing de empresas se apropria da narrativa séria sobre o impacto socioambiental para criar ações fakes.
A mobilização de uma sociedade empenhada em denunciar tal conduta fez com que muitas empresas entendessem que a mentira não seria tolerada. Passados alguns anos, a pauta ESG (sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa ou environmental, social & governance) reforçou que o compromisso empresarial deve ser legítimo e abarcar outros aspectos da responsabilidade socioambiental das companhias. Uma delas, sem dúvida, é a equidade de gênero.
Criar um ambiente favorável à contratação, retenção e ascensão profissional para mulheres se tornou uma meta de suma importância não apenas para as empresas, mas para a sociedade. Promover a equidade de gênero significa lutar contra um cenário de desigualdade e de falta de oportunidades que oprime uma grande parcela da população. Passada a primeira onda dessa inclusão, vejo – como estudiosa dos ambientes corporativos do Brasil e de outros países – que estamos vivenciando diversas iniciativas que não são autênticas; é, praticamente, um womanwashing. O que quero dizer com isso? O meu ponto é que contratar mulheres deve ir além da seleção de talentos femininos para ocupar vagas. Deve abarcar, na minha opinião, um plano consistente de fazer com que essas profissionais possam se desenvolver plenamente para ocuparem cargos de liderança; elas precisam se sentar à mesa de decisão!
Quando vemos mulheres sendo promovidas e convidadas a ocupar cargos de liderança, conseguimos nitidamente enxergar que são cadeiras de pouca tomada de decisão. Essas profissionais se tornam mera decoração, ou seja, não têm nenhum poder de decisão; são ornamentos para os senhores do poder. Esse fenômeno pode ser conferido não apenas nas empresas de diferentes portes, como em associações e na política também. Assim como o greenwashing contou com a mobilização da sociedade para denunciar e dar um basta – algo que demanda uma vigilância permanente, porque há empresas que ainda não entenderam o recado – precisamos criar um movimento atento à prática de usar mulheres como figurantes e comprometido em denunciá-la.
A equidade de gênero nos espaços de poder tem que ser de verdade!