Sobre o livro Sortudas? – Não se deve julgar uma mulher pela ‘capa’!
Não julgar uma mulher pela capa é um trocadilho divertido para falar sobre um hábito muito contemporâneo: tirar conclusões precipitadas sobre as pessoas e sobre as escolhas de vida delas. Esse tema tem sido amplamente debatido nas reuniões da Primavera Editorial de uma maneira lúdica e leve – por meio da literatura. Estamos lançando o livro Sortudas? #avidarealnãoéumapubli, cuja narrativa nos provoca a refletir sobre o que consideramos “sorte” nesse exercício humano de pensar sobre a vida das outras pessoas.
Esse julgamento feminino nos leva a invalidar as dores e batalhas umas das outras. Vem aquele pensamento: “ela é tão sortuda que não deveria reclamar”. Esse modo de enxergar carrega uma forte demanda por invalidar qualquer sentimento que contrarie a gratidão que essa outra mulher deveria sentir. E quando esse sentimento é direcionado por nós para nós?
Um ponto muito relevante é que esse julgamento nos leva a invalidar as dores e batalhas das outras. Concorda?! Vem aquele pensamento: “ela é tão sortuda que não deveria reclamar”.
Esse modo de enxergar carrega uma forte demanda por invalidar qualquer sentimento que contrarie a gratidão que essa outra mulher deveria sentir. E quando esse sentimento é direcionado por nós para nós?
Explicando melhor, é aquele pensamento que surge quando não nos permitimos a insatisfação. Essa positividade tóxica tenta anular um contexto real em que todo mundo tem problemas – e cada um está enfrentando a própria batalha sobre a qual ninguém sabe.
Por dentro do livro Sortudas?
Essas situações contemporâneas e esses cenários incômodos foram os insumos para que a escritora britânica Dawn O’Porter construísse a narrativa do romance Sortudas?. A interrogação do título, aliás, exerce uma função para além do questionamento puro, sendo uma provocação tão irônica e visceral quanto Ruby, Beth e Lauren Pearce, personagens principais deste livro agridoce e profundamente feminino.
É um livro especial – na minha opinião – que acompanha a vida de mulheres que não percebem, inicialmente, que o destino está reunindo-as, ou seja, juntando-as misteriosamente por suas relações complexas com o próprio corpo, a maternidade e internet.
Na prática, cada página gira em torno de três mulheres na casa dos 30 e 40 anos – uma influenciadora, uma organizadora de casamentos e uma designer especialista em tratamento de fotos – cujas vidas se entrelaçam em um evento chocante que traz à tona os verdadeiros dramas de cada uma delas.
É uma narrativa provocativa que traz temas como masturbação feminina, abuso sexual, dogging (fazer sexo em lugares públicos com pessoas assistindo), mulheres misóginas, competição feminina, coisificação/hipersexualização, as dores da maternidade, as marcas do patriarcado, sororidade em momentos extremos e relações tóxicas de uma forma como poucas vezes vemos.
Ou seja, é uma abordagem crua, destemida e sem preconceito! Mas, com muita reflexão de mulheres empoderadas. É para mulheres fortes de todas as idades! Aliás, é para mulheres que, em algum momento da vida, duvidaram de si mesmas. Recomendo, muito, a leitura!