Quiet Quitting: do grande desgaste à reflexão pós-moderna
A desistência silenciosa (quiet quitting) tem muitas nuances.
Nas últimas décadas, quando um funcionário cumpria estritamente o que estava no contrato de trabalho dele – nem mais, nem menos –, os gestores costumavam classificar esse colaborador como alguém desmotivado e pouco interessado na ascensão da carreira. Era como se algo estivesse fora do lugar, pois o “natural” era ter profissionais extremamente estimulados a aprender, dispostos a colaborar e a disputar cargos de chefia. Hoje, os gestores se deparam com um conceito que tem se tornado relativamente comum no mundo do trabalho: o quiet quitting que, em livre tradução, significa “desistência silenciosa”. É como se uma nova geração de trabalhadores buscasse dar uma resposta aos workaholic, aqueles trabalhadores compulsivos e sem limites.
Aliás, limite é a palavra-chave para entender esse movimento do quiet quitting. Esse profissional não está renunciando ao trabalho; a decisão dele é realizar o mínimo necessário, estabelecendo limites que julga necessário. Para esse funcionário não há sentido em sacrificar tempo em prol do empregador, por isso, cumpre as obrigações preestabelecidas, sem fazer horas extras ou responder a mensagens fora do horário comercial.
Especialistas da área comportamental apontam que o burnout e a pandemia fizeram com que os jovens repensassem a relação que têm com o trabalho. O quiet quitting, aliás, surge na esteira da chamada “grande renúncia”, que levou 47 milhões de norte-americanos a abandonarem os seus empregos em 2021. É interessante notar que estudiosos do mundo do trabalho afirmam que esse debate nasce de um evidente conflito geracional; que a pandemia afetou a formação e o amadurecimento dos jovens. Ou seja, a experiência de isolamento vivido por conta da crise sanitária global formou uma geração introspectiva, viciada em telas e com sérios problemas de interação social.
Como tudo nessa vida, a desistência silenciosa tem uma resposta; uma força oposta. Já se fala em quiet firing, ou seja, demissão silenciosa. Os líderes, que entendem que não podem contar com o engajamento do profissional, passam a demandar cada vez menos desse funcionário: não o convidam para reuniões, não o incluem nas demandas do departamento e não o envolvem em atividades rotineiras do time. A ideia é que esse isolamento (um período de geladeira) ou faça a pessoa refletir sobre a conduta adotada e assuma uma nova postura – ou decida sair da empresa por conta própria. Assim, esse chefe não precisa lidar com questionamentos envolvendo a sua assertividade de contratar pessoas.
Interessante notar que o ser humano tem uma especial predileção por extremos. Ou transforma o trabalho no único interesse da vida ou migra para o desinteresse. Claro que o equilíbrio é muito complexo, mas é evidente que trabalhar não se trata somente de ganhar dinheiro para pagar boleto.
A vida pode ser maior e mais significativa do que esses extremos!