Sobre o Sanatório Pinel e o que a gente aprendeu com o passado
Em 1929, Antonio Carlos Pacheco e Silva fundou o sanatório denominado, inicialmente, por “Pinel”, uma homenagem ao psiquiatra Philippe Pinel. A criação do sanatório foi bancada pela elite da época – médicos, comerciantes e advogados – e a criação tinha como objetivo também ser um local para a elite.
O argumento das internações neste hospital, no entanto, passava pela subjetividade e mesclava-se, muitas vezes, com os olhos do conservadorismo da época, tornando “fora do normal” qualquer coisa que fugisse dos padrões estabelecidos por essa elite. Assim – e como em muitos outros momentos na história – as mulheres foram alvos de tais internações, principalmente aquelas que tentavam adentrar o espaço público, rompendo com as tradições. Eram mulheres vistas como “inadequadas, delinquentes e, portanto, mais frequentemente vítimas, sendo ligadas à contravenção”.
Como as mulheres eram parte pequena do espaço público muitas das documentações da época foram escritas por homens, o que apaga suas experiências até mesmo dentro do espaço privado.
No entanto, dentro do sanatório, essas mulheres escreveram cartas, poesias, pintaram e trocaram experiência. Agora, essas documentações retratam como a emancipação feminina era vista como algo preocupante. A “higienização mental” que existia preferia internar e segregar as mulheres com traços de empoderamento, para “manter a pureza da sociedade”.
Antonio Ackel compilou e analisou trinta das cartas, sendo sete escritas por mulheres. A publicação tira o holofote da história escrita pelos homens da elite e trazem voz, lugar de fala, ao que, de fato, essas mulheres enfrentarem e por quais motivos.
É válido ressaltar que, além das internações dessas mulheres, muitos homens foram internados por serem homossexuais, mostrando que o sanatório Pinel não era um local envolto apenas pelo machismo, mas também pela homofobia.
Algumas dessas outras 23 cartas mostram os abusos sofridos por esses homens durante sua internação no sanatório.
É preciso que mais publicações desse tipo surjam para trazer voz às vítimas. O papel das mulheres precisa ser escavado e reescrito a partir do seu próprio ponto de vista para que a história pinte a realidade.
Eu acredito no que afirma Paulo Freire:
“Olhar o passado deve ser apenas um meio para entender mais claramente o quê e quem somos nós, para construir o futuro de forma mais inteligente”.
Larissa Caldin, publisher da @primavera_editorial