Rosa e azul: a falta de sentido na guerra das cores
Em uma das pinturas mais famosas do mundo, o impressionista Pierre-Auguste Renoir retrata as filhas do banqueiro Louis Raphael Cahen D’Anvers, com graciosos vestidos rosa e azul. Produzida em Paris de 1881, o quadro capta o espírito de um tempo no qual as cores não distinguiam gênero. No livro Pink and Blue: Telling the Girls from The Boys in America, a historiadora Jo B. Paoletti conta que em 1914, o jornal Sunday Sentinel aconselhava as mães a usarem rosa para os meninos e azul para as meninas, retratando o modismo da época. Somente após a Segunda Guerra Mundial, a recomendação se inverteu.
Interessante saber que a cor rosa era recomendada para meninos por ser semelhante ao vermelho, passando a ideia de força – era um vermelho “aguado”; o azul, por sua vez, tem uma proposta de suavidade e delicadeza. Em tempos idos, longe das guerras ideológicas, o comum era vestir crianças de cores primárias (vermelho, azul e amarelo), tons pasteis e terrosos.
Entretanto, o Ministério da Mulher, Família e Direitos – representado por Damares Alves – defende que a cor vestida por meninos e meninas tem alguma relevância. A defesa da ministra ocupou as redes sociais e gerou uma série de reações contrárias de brasileiros. São inúmeras fotos e frases com posicionamentos que vão do contundente ao satírico. Aliás, o humor é o caminho adotado pelo brasileiro para sobreviver a tantas situações sem sentido.
Na minha percepção, embora o humor seja um belo caminho para protestar e desnudar o nonsense político, cabe pontuarmos os reais desafios do Brasil, envolvendo a igualdade. Esse é o momento para defendermos a liberdade de escolha; o respeito à individualidade. É essencial cobrarmos dos nossos políticos uma postura respeitosa e com o mínimo estofo racional. O preconceito tem como raiz a falta de respeito à diferença – e a falta de lógica.
O incentivo à leitura qualificada é um importante aliado para combater essas distorções. É o consumo de bons textos que ampliam a nossa noção de mundo e traz repertório para evitarmos esse tipo de besteirol. Vamos elevar o nível do debate? Esse vai ser o grande desafio de 2019.
Leia aqui, na Coluna Por elas, a opinião de Ana Maria Sbardella, jornalista, sobre as cores e essa problemática de gênero. E vamos debater sobre o assunto para um mundo colorido por igual.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial