Design de bebês? Inovações que parecem filme de ficção científica
Algumas inovações soam como ficção científica. A que me deparei recentemente é a CRISPR-Cas9 – uma nova ferramenta de edição do genoma que pode nos levar à escolha do “design do bebê”. Mas, também, pode nos levar à extinção de doenças que ameaçam a humanidade.
Acho que muitas leitoras vão se identificar com essa minha experiência! Com tantas notícias sobre a pandemia da Covid-19 – em especial sobre o desenvolvimento de vacinas e medicamentos –, passei a “consumir” mais notícias sobre saúde.
E, claro, em um dado momento, esse viés deriva para a busca por leituras sobre inovações no campo da genética. Eis que uma das minhas temáticas de pesquisa tem sido a CRISPR-Cas9 (Clusters of Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, em livre tradução: Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), uma ferramenta de edição do genoma, do nosso DNA.
Na prática, ela permite que os cientistas modifiquem genomas com precisão, eficiência e flexibilidade.
Dilemas morais e inovações; na tecnologia e na saúde
Um dos exemplos dessas inovações que nos deixam nesse “dilema moral”, é uma pesquisa que resultou na criação de macacos com mutações programadas; em outra, os geneticistas evitaram que houvesse uma infecção do HIV em células humanas. Lá em 2015, cientistas chineses anunciaram que aplicaram a técnica em embriões humanos, ou seja, fato que dá indícios de um grande potencial para curar doenças genéticas. Mas também dá indícios de que é possível “fazer o design de bebês” a partir da edição genética! É aqui que a coisa complica absurdamente com a ciência esbarrando na ética.
Explicando melhor… a técnica – que deu o Nobel de Química, em 2020, às cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna – funciona como uma tesoura molecular que contribui para o desenvolvimento de novas terapias contra o câncer e doenças hereditárias como distrofia muscular, fibrose cística e hemofilia, por exemplo.
Por outro lado, em 2018, o geneticista chinês He Jiankui criou dois bebês geneticamente modificados, usando CRISPR para editar embriões, colocando-os no útero da mãe por meio de fertilização in vitro. Os bebês nasceram e o cientista foi condenado a três anos de prisão pela prática, que é ilegal na China.
Essa história derivou na criação de uma comissão internacional que, ano passado, publicou um relatório no qual afirmam que a ciência ainda não tem ferramentas para garantir que essas edições não resultem em efeitos colaterais no futuro – algo, inclusive, como humanos aprimorados, uma dessas inovações que deixam a gente boquiabertas.
Com isso, a recomendação é que os países regulem e fiscalizem o uso dessa técnica. Óbvio que os otimistas falam da possibilidade de seres humanos com mais saúde; os mais realistas falam do conflito ético.
No meu ponto de vista há uma possibilidade real de arrasar a diversidade humana de um jeito nunca antes visto. Ou seja, em fazer escolhas para além da saúde, que envolvam a estética.
O assunto vai longe e para as leitoras que queiram saber mais sobre essas inovações que vão além da ciência, recomendo o TED de Jennifer Doudna, a Nobel de Química.