A independência feminina
É um clichê falar sobre independência em 7 de setembro. Entretanto, quero propor outra dimensão para esta conversa: a da emancipação feminina por meio da leitura.
A data é tão significativa que até o coração de Dom Pedro I foi convocado a participar; a relíquia veio da cidade do Porto, em Portugal, para ser apresentada como um trunfo político das solenidades do bicentenário da independência do Brasil. Embora o tema clichê do 7 de setembro seja, indiretamente, assunto desta minha coluna de hoje, quero propor um outro recorte para a efeméride da independência; quero refletir sobre a independência feminina, ou melhor, a emancipação por meio da leitura. Mais do que isso, quero falar sobre como as jovens mulheres têm incluído a leitura em um cotidiano tão desafiador.
Sabe aquela máxima de que os jovens não leem? Então, ela deveria cair em desuso. A pandemia, as redes sociais e a vontade de fazer parte de um grupo têm impulsionado a leitura, sobretudo, entre os jovens. A renovação do público leitor pôde ser vista na última Bienal do Livro e pode ser comprovada nos rankings das obras mais vendidas no país. As publicações destinadas aos leitores que têm entre 14 e 15 anos estão no topo das listas de best-sellers, especialmente, na conduzida pelo PublishNews a partir das vendas nacionais. Nos primeiros seis meses de 2022, entre os 20 títulos de ficção mais populares, 13 eram livros para adolescentes ou jovens adultos.
Grande parte desse contingente de jovens leitores é formado por mulheres. Em um mundo com tantas oportunidades de diversão mediadas pela tecnologia, vemos o livro impresso (e, claro, também o digital) arrebatar uma legião de jovens mulheres ávidas por ler sobre temas ligados à sexualidade, ao protagonismo feminino na sociedade e LGBTQIAP+. Como editora experiente e fundadora da Primavera Editorial tenho acompanhado de perto esse fenômeno. Na Bienal do Livro, por exemplo, os visitantes com idades entre 18 e 24 anos representaram 36% do público do evento.
As novas leitoras e os seus interesses por temas que têm movido e questionado a sociedade pós-moderna são o retrato de um novo Brasil. Talvez ainda seja cedo para decifrar para onde vai essa tendência, mas vejo uma geração de leitoras dispostas a se emancipar; a conhecer mais – por meio da leitura – novas formas do pensar e do viver feminino no país. Essa emancipação logo mais, na minha percepção, promoverá uma verdadeira revolução do agir nas causas feministas e femininas brasileiras. Esses corações, aliás, me interessam bem mais do que o de Dom Pedro I. Essa independência nos levará mais longe nos próximos 200 anos quando, então, o país celebrará uma nova emancipação, que espero ser a feminina. Bom feriado!
Essa independência nos levará mais longe nos próximos 200 anos quando, então, o país celebrará uma nova emancipação, que espero ser a feminina. Bom feriado!