A detenção moral e o levante das mulheres no Irã
Aos 22 anos, Mahsa Amini foi detida pela polícia moral do Irã. Acusada de usar trajes inadequados, a moça morreu em circunstâncias obscuras, detonando uma onda de protestos que tomou conta do país.
A liberdade das mulheres no Irã é inexistente. Isso ficou bem claro com a morte de Mahsa Amini, detida em Teerã, acusada de usar “trajes inadequados”. Em poucos dias, ela saiu da prisão diretamente para o hospital, onde morreu três dias depois. Após o seu funeral, uma onda de protestos tomou o país, deixando um saldo de mortos, presos e feridos. As mulheres têm exigido das autoridades que investiguem o caso e que respeitem os direitos femininos fundamentais. Elas não acreditam na versão oficial de que Mahsa teve um ataque cardíaco.
Nas ruas, as iranianas têm tirado os véus e cortado os cabelos em protesto a uma lei que data da Revolução de 1979 – que abriu espaço para o regime teocrático. Na prática, as mulheres são obrigadas a cobrir os cabelos com o véu e a usar roupas largas para que não se veja o formato dos seus corpos. Às que se rebelam contra o absurdo, restam repreensões públicas, multas e prisão. Conhecida como detenção moral, a prática tem sido repudiada por cidadãos que não aguentam mais ver mulheres sendo vítimas de uma lei arbitrária.
De acordo com o jornalista Guga Chacra, a principal ameaça à ditadura do Irã são as mulheres. “Mulheres de todo o Irã se enxergam em Mahsa. Sabem que podiam ter sido elas as vítimas. Sabem que o regime depende de reprimi-las para se perpetuar no poder. O apartheid contra as mulheres é a base dessa ditadura, que até bem pouco tempo atrás proibia inclusive as mulheres de assistirem a jogos de futebol no estádio –
proibição que também ocorria no sistema de apartheid contra as mulheres na Arábia Saudita”, afirma Chacra em coluna no jornal O Globo.
É profundamente perturbador vemos esse tipo de tratamento dispensado às mulheres. Em várias partes do mundo, o “entendimento” de normas religiosas – que invadem o cotidiano dos países – tornam os corpos femininos território de disputas ideológicas, corpos que são vítimas de leituras enviesadas de textos religiosos.