Nós não precisamos falar sobre colorismo!
Essa é uma frase que escutei e escuto desde que comecei a estudar e querer entender sobre a minha identidade racial há quatro anos atrás: “nós não precisamos falar sobre colorismo!“; e bem… vou ser sincera, normalmente pessoas brancas sequer sabem o que é isso. Portanto essa frase vem de pessoas negras; comumente das retintas.
Sobre colorismo e identidade racial
Portanto se você é uma pessoa branca e caiu de paraquedas nesse assunto, o que você precisa saber sobre colorismo (ou pigmentocracia): quanto mais escura uma pessoa for e quanto mais fenótipos essa pessoa tiver, mais racismo ela sofrerá. Em contrapartida, pessoas negras de pele clara também sofrem racismo, contudo são toleradas dentro dos espaços nos quais a branquitude permite que ela seja inserida.
Entendemos aqui que ser tolerada na sociedade nem de longe chega a ser um privilégio. Em partes concordo com essa afirmação, entendendo que o que o Brasil sofre de fato não é somente sobre colorismo, mas sobre identidade racial, que está intrinsecamente ligada à essa questão.
Será que você sabe o que é ser negro no Brasil? Acredito que essa é uma das perguntas mais complexas a serem respondidas e ouso dizer que, por hora, não teremos uma definição 100% precisa.
Qual a sua cor?
Mas por que essa confusão toda sobre colorismo? Analisando a verdadeira história brasileira, aquela que você não teve acesso na sua escola, você poderá encontrar em livros como Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil – Identidade nacional versus identidade negra, autoria de Kabengele Munanga, que existiu um processo de amplitude estadual à partir do século XIX e meados do século XX para o embranquecimento da população brasileira, desde João Batista de Lacerda, Nina Rosa até Monteiro Lobato lideraram, propagaram e agiram em prol desse sistema a fim de que em cem anos já não haveriam mais pessoas negras no Brasil à partir do processo de mistura de diferentes etnias.
Ou seja, a imigração principalmente europeia e entre tantas outras não foram um marco somente de desenvolvimento econômico do Brasil, mas, sim, de aniquilamento da população negra.
O plano em partes não deu certo, porque bem, aqui estamos, mas ao mesmo deu e muito, porque somos uma das nações mais perdidas em termos de identidade racial. Embora os dados do IBGE digam que somos 54% da população negra, desse total 8% são os negros retintos. Ou seja, 46% é a mestiça, parda ou negra de pele clara. Mas quantos de fato dentro dessa porcentagem se enxergam como afro-brasileiros?
Big Brother Brasil: negros reproduzem racismo em virtude do auto-ódio
A falta de identidade racial gera esse não lugar, esse limbo onde a branquitude e a negritude acreditam que podem dizer quem você é, sem ao menos respeitar sua história dentro desse contexto todo. O caso do Gilberto do Big Brother Brasil, onde dois personagens pretos falam que ele é sujo e caso ele esfregasse a pele ficaria branco, não é algo pontual, muito menos velado. Entendendo que dentro desse cenários duas pessoas pretas estão reproduzindo o racismo, entendemos em rede nacional como o racismo atua. Parafraseando Paulo Freire:
“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.
Em um país que foi o último a abolir a escravidão (em 2021 completaremos somente 134 anos), as marcas ainda se fazem extremamente presentes dentro do nosso cotidiano, inclusive dentro da sua residência, quando você chama a “Tereza”, mulher negra, para limpar sua casa, mas não assina a carteira dela; ou ainda, as marcas ainda presentes naquele quarto de empregada que existe em seu apartamento. Ouso dizer que a revolução não virá dos brancos e nem dos negros retintos, mas dos negros de pele clara que aos poucos tomam seu lugar dentro da sociedade.
A caminhada é grande, mas já começamos e nenhum passo será dado para trás.
Por Natália Bovolenta, fundadora da @wilifa.br, hub de conteúdo de projetos sociais, e administradora do perfil @nataliabovolenta, espaço para negras de pele clara sobre colorismo e adoção.