O aumento no número de divórcios no Brasil
O Colégio Notarial do Brasil, entidade que representa os cartórios do país, divulgou um levantamento no qual aponta que, em 2020, o número de divórcios no Brasil cresceu 15% em relação a 2019: foram mais de 43 mil pedidos no ano da pandemia. Esse, aliás, é apontado como o principal motivo para o aumento.
A maior convivência entre os casais – em um contexto de isolamento ou distanciamento social – é apontada como um dos motivos para o aumento de divórcios no Brasil. Entretanto, vejo que há mais motivos…
Apesar de acreditar que essa hipótese seja válida, à medida que aprofundou incômodos e desnudou problemas, também acredito que não é a única razão para tantos casais terem decidido romper laços e seguir a vida de outro jeito.
Divórcios no Brasil e o conceito de felicidade
Na prática, a maior convivência entre os casais – em um contexto de isolamento ou distanciamento social – contribuiu para aprofundar incômodos e desnudar problemas. Mas, na minha opinião, o repertório de termos de amor e relacionamento passou a ser revisto, sobretudo pelas mulheres.
Essa notícia do aumento dos números de pedidos de divórcios me fez lembrar da escritora Gunda Windmüller, autora do livro Mulher, solteira e feliz. Segundo ela – mestre em Literatura e jornalista – a virada do século 19 para o 20 é considerada um marco de uma mudança significativa na linguagem do amor; esse é o momento histórico em que as mulheres começam a desempenhar um papel social no romance; entretanto, nos livros, elas aparecem como figuras trágicas, seduzidas e traídas como Anna Karenina e Madame Bovary, respectivamente, personagens dos escritores Liev Tolstói e Gustav Flaubert.
Em pleno século 21, esse conceito do amor romântico – que permeou muitas decisões femininas de matrimônio, inclusive – dá sinais de esgotamento.
Amor em tempos de pandemia: casada ou solteira para ser feliz?
Com base em estatísticas, digressões históricas e sociológicas, experiências pessoais e entrevistas com mulheres em idades entre 30 e 60 anos, Gunda desafia a falsa noção de que somente um relacionamento amoroso confere sentido à vida feminina. A ideia de escrever o livro surgiu, segundo a autora, quando terminou um relacionamento de anos e constatou que as pessoas próximas estavam realmente preocupadas com o presente e futuro dela: casamento, filhos, solidão à noite. “Essas preocupações me intrigaram, porque eu estava realmente feliz. Foi nesse momento que percebi o quanto uma mulher solteira desperta pena, inclusive de outras mulheres. Daí, decidi escrever um livro sobre isso!”, afirma. Sobre a verdadeira investigação social que fez no processo de construção da obra, ela conta que se deparou com uma série de mentiras que a sociedade conta sobre as mulheres. “A principal é que precisamos nos apressar, porque a vida está prestes a acabar – o que não é verdade. Nós vendemos essa ideia da beleza desaparecendo com a idade; a noção de que tudo se reduz à aparência”, afirma.
No meu ponto de vista, a constatação de que a felicidade não se resume a um casamento, pode ter norteado a decisão pela separação. E, essa é uma decisão masculina e feminina. Entre os confrontos internos, provocados pela pandemia, vejo que muitos concluíram ser possível atingir a felicidade para além das fronteiras do casamento formal. Essa noção, na minha percepção, trouxe luz e força para novas decisões. Que sejamos livres para decidir sem pressões sociais!
Lu Magalhães