É tudo culpa da mãe?!
Para o bem ou para o mal, as mães estão acostumadas – mas não conformadas – a levar a culpa de traumas e do despreparo dos filhos. A tal “falha na educação” se tornou um atributo tão feminino quanto o batom. A psicanálise de Freud – quando mal interpretada – culpa a mãe de todos os males humanos. Mas, confesso, que pela primeira vez vi um político, sem nenhum pudor, culpar as mães brasileiras. Não basta o saco de maldades disseminadas por grande parte dessa categoria, dão-se ao direito de apontar a criminalidade como fruto de lares geridos por mães e avós. O tal candidato a vice-presidente, cujo nome me recuso a proferir, diz que as famílias lideradas por mulheres são fábricas de elementos desajustados, que tendem a ingressar em quadrilhas do narcotráfico.
A origem dessa falsa premissa está nas interpretações torpes dos números. No Brasil, temos 5,5 milhões de pessoas que não têm o nome do pai no registro de nascimento; mais de 80% das crianças no país têm mulheres como o primeiro responsável. Na prática, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada aponta que de 1995 e 2015, os lares chefiados por mulheres saíram do patamar de 23% para 40%; o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostra que, em 2015, o número de famílias compostas por mães solteiras subiu para 11,6 milhões – em 2005, esse número era de 10,5 milhões.
Para um homem, é fácil culpar as mulheres brasileiras de todos os males sociais, usando por subterfúgio a leitura de dados. O tal candidato insiste que a frase não é machista – é uma constatação. Algo como se o número de lares conduzidos por mulheres encontrasse proporcionalidade na escalada da violência. Não se fala da omissão dos homens; não se fala dos inúmeros lares conduzidos por mulheres que resultaram em cidadãos que têm transformado a qualidade de vida da população menos favorecida. Não se fala, também, de homens que desempregados têm cuidado dos filhos, enquanto as mulheres trabalham como domésticas e ambulantes. A questão é que não devemos excluir o masculino e o feminino da equação social – tanto dos bons, quanto dos maus resultados. Homens e mulheres têm papeis importantes em toda a sociedade.
A raiz da criminalidade é muito mais complexa do que a criação monoparental feminina. O “tudo é culpa da mãe” tem limites. E a nossa paciência também deveria ter!
Lu Magalhães
Presidente da Primavera Editorial