O Terapeuta de Deus e o dia a dia nas empresas
Por José Tolovi Jr.
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Lendo o Terapeuta de Deus: lições de um paciente inesperado – livro do Ph.D. em psicologia, Michael Adamse, recém-lançado pela Primavera Editorial – não pude deixar de pensar quão verdadeira é essa história para o mundo empresarial. No enredo do livro, Deus escolhe um terapeuta para desabafar! Sim, o todo poderoso se sente sobrecarregado com os inúmeros pedidos, queixas e reclamações dos seres humanos. Em 10 sessões, conta ao terapeuta que precisa de alguém para ouvi-lo simplesmente porque está exausto. Diz que ninguém quer fazer sua parte na solução dos problemas cotidianos; afirma que se a humanidade fosse um pouco mais responsável e se cada humano auxiliasse Deus, ele poderia ser mais feliz e ajudar mais pessoas. E assim por diante…
Ao ouvir isso, você – que tem alguma função de liderança em alguma organização – não tem a sensação de a afirmativa soar familiar? Algum tipo de déjà vu? Veja bem, eu não estou aqui, nem de perto, pensando em dizer que os líderes são como Deus. Embora saiba que muitos não apenas pensam como agem como tal! Minha comparação é reversa e se refere a Deus avaliando o papel de apoiar pessoas e de ajudá-las a crescer e a ser melhores. Ou seja, um papel muito semelhante ao da liderança nas organizações.
Então, voltando às queixas e solicitações, veio-me à mente a questão do plano de carreira. Quantas vezes você ouviu gente reclamando que na empresa não há um plano de carreira consistente? Ou que a carreira não está sendo bem cuidada pela empresa? Ou que a carreira não deslancha exatamente porque a empresa não cuidava dela? Eu costumo sempre contestar essas reclamações, dizendo que a carreira é preciosa demais para deixar na mão de outras pessoas. Se o próprio profissional não cuidar da carreira, pode ser que outras pessoas não cuidem dela tão bem assim. Esses “gestores terceirizados” podem dirigir o futuro de determinado profissional usando critérios diferentes dos valorizados pelo dono da carreira. É claro que a empresa – com os seus líderes – pode ajudar, apoiar, orientar e avaliar o desenvolvimento, mas a carreira é sua, o futuro é seu e, finalmente, a vida é sua! Um pouco do que Deus diz a seu terapeuta, no livro de Michael Adamse: (…) “Se ao menos as pessoas colaborassem; se se esforçassem mais antes de pedir; se pedissem ajuda para tomarem decisões mais sábias… Mas não.”
Assim, como muitas pessoas vivem reclamando da vida e das injustiças divinas, nas organizações há pessoas (talvez as mesmas) que reclamam das carreiras e das injustiças dos chefes – nesse caso mundano, às vezes são queixas verdadeiras. Em geral, existe o pressuposto que a empresa – representada pelos gestores, pois a empresa não existe como ser atuante – deve prover tudo aos funcionários. O sentimento de paternalismo nas organizações impede que o indivíduo invista e assuma a responsabilidade pelo seu aprimoramento profissional.
Se até mesmo Deus já concluiu que não pode dar conta de tudo e que os humanos deveriam auxiliá-lo a ajudá-los, por que em um mundo muito mais imperfeito não deveria ser igual? Se cada colaborador pensasse em como pode ajudar a empresa a auxiliá-lo, será que não teríamos empresas melhores? No caso das empresas, felizmente, conseguimos encontrar inúmeros exemplos onde isto ocorre. Em geral, nas empresas com alto nível de confiança – locais onde todos entendem que existe uma interdependência entre chefes e subordinados; e que a colaboração leva a melhores índices de produtividade e melhores condições de trabalho, fazendo com que todos ganhem.
Nas relações entre Deus e suas criaturas, também parece ocorrer o mesmo! Convido todos os profissionais a ler Terapeuta de Deus: lições de um paciente inesperado, para traçar um paralelo entre as situações divinas e o mundano mundo empresarial. Na minha percepção, o livro pode ser lido de duas maneiras. A primeira leitura é a de um conto de ficção no qual a interpretação fica a cargo do leitor; a segunda forma, como um sofisticada alegoria que nos incita a refletir sobre o quanto tentamos transferir para terceiros a solução dos nossos problemas e dos dilemas da vida. Confesso que a minha tendência é associar o texto a um questionamento filosófico que deve ser feito por cada um de nós. Qual é a missão que a vida me propõe? Por esse e muitos outros motivos, a obra que merece ser lida, dissecada e relida. Se acaso for uma história verídica – como sugere o autor, Michael Adamse, doutor em Psicologia Clínica pela Universidade de Miami, nos Estados Unidos –, fica a critério do leitor decidir. Aliás, as divindades são conceitos oriundos da imaginação e criatividade humanas.
José Tolovi Jr., CEO do Great Place to Work® Inc., é doutor e mestre em Sistemas de Informação e Decisão pelo IAE da Universidade de Grenoble (França), pós-graduado em Administração de Empresas (EAESP-FGV) e Engenheiro Metalurgista (Escola Politécnica da USP).