Abuso sexual na igreja: as escravas sexuais da Igreja Católica
Pela primeira vez um pontífice reconhece o crime do abuso sexual na Igreja Católica e reconhece que o seu antecessor teve de fechar uma ordem feminina em que havia comprovada escravidão sexual de freiras por parte de padres e bispos.
Escravas sexuais. Nada nos protege da barbárie – e somos, de fato, tratadas como seres de segunda classe. Papa Francisco tem razão.
“O pontífice lamentou os ataques a mulheres e disse que a humanidade ainda não amadureceu e ainda considera a mulher como ‘um ser de segunda classe’. É uma coisa que vem de muito tempo”.
O Estado de S. Paulo | 6 de fevereiro de 2019.
Na volta da histórica viagem a Abu Dhabi, o religioso falou – com um repórter do L’Ossservatore Romano, no avião papal – sobre a cruzada que tem empreendido contra o abuso sexual e respondeu diretamente sobre o abuso sexual na igreja, sofrido por religiosas.
Em 2018, a União Internacional de Superioras Gerais, que representa 500 mil freiras, pediu que as integrantes denunciassem casos de abuso sexual. Francisco afirmou: “Nós estamos trabalhando nisso há bastante tempo. Nós temos suspendido alguns padres por isso”. E, informou que o Vaticano está no processo de fechar uma ordem feminina por casos de abuso e corrupção. Estarrecedor.
Em 2005, o então Papa Bento XVI extinguiu uma ordem religiosa feminina francesa porque a escravidão havia se tornado parte do cotidiano da organização – escravidão sexual cometidas por padres e pelo fundador. Escravidão sexual?! Quantos foram presos? Parece-me que nenhum. A Igreja Católica tem sido objeto de processos indenizatórios que trazem à tona toda essa barbaridade. Entretanto, esses homens não estão sendo punidos com o rigor da lei. Essa é uma segunda violência que está sendo cometida contra essas mulheres.
No final do mês passado, Papa Francisco se encontrou com os presidentes das conferências episcopais para abordar a violência sexual dentro da Igreja. Algo sobre “liturgia penitencial para pedir perdão por toda a Igreja”. Ou seja, a real reparação ainda não entrou na equação e continuamos sendo tratadas como cidadãs de segunda classe. Até quando?!
Não basta o reconhecimento da Igreja Católica pela voz da autoridade máxima da organização. Não basta a penitência vazia de significado dos algozes. Não basta a “catequese” desses criminosos vestidos de hábito eclesiástico. Essas mulheres merecem mais do que o lamento e o “me desculpe”. Esperamos e exigimos mais.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial