A definição de família e o conservadorismo
Voltou a circular pelas redes sociais um vídeo emocionado de Fernanda Lima, apresentadora do programa Amor & Sexo, pedindo para que todas as famílias sejam respeitadas. O trecho do depoimento, extraído de um episódio exibido em outubro deste ano, me remeteu a um momento “literário”, envolvendo o tema. Há um ano, exatamente no dia 8 de novembro, o Fantástico – programa da TV Globo – anunciou, em primeira mão, que o dicionário Houaiss redefinia o verbete “família”. O que antes era definido como “grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto (especialmente o pai, a mãe e os filhos)”, passou para “núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantêm entre si a relação solidária”.
Acho incrível que entre ano e saia ano, mas estejamos sempre abordando os mesmos temas. Longe de ser uma reclamação, esta é uma constatação de que a humanidade evolui a passos lentos. Não acho que estejamos regredindo, mas me aflige essa lentidão, sobretudo quando leio a frase de um ministro: “preservação da família e da moral humanista”, afirmando que a família brasileira é “na sua essência, conservadora e avessa a experiências.”
Gostaria, imensamente, de saber de qual família os políticos conservadores falam. Não deve ser as famílias reais, formadas pelos quase 30 milhões de lares comandados por mulheres; nem as 60 mil famílias homoafetivas brasileiras, sendo 53,8% composta por mulheres. Esses são números do Censo 2010, ou seja, números oficiais que devem nortear as políticas do Estado; que, por sua vez, deve governar para todas as famílias. E, onde estão as “famílias avessas a experiências”? Em uma série de reportagens sobre “A Nova Família Brasileira” – conduzida pelo jornal O Globo – há exemplos de famílias homoafetivas católicas, que aos domingos se reúnem na missa.
Nos últimos quatro anos, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo cresceram 45%; desses, 52% são casais formados por mulheres. Um direito conquistado, uma vez que casamento não deve ser um privilégio de heterossexuais. De novo, brasileiros que formam uma família.
Lu Magalhães
Presidente da Primavera Editorial