Pelo crescimento do movimento Body Positive
Como funciona o movimento pela imagem corporal positiva que incentiva mulheres (e por que não homens também?) a terem um olhar mais sincero, positivo e até carinhoso de si? Como deixar os padrões de lado e enxergar mais beleza em todos?
Inadequado. Errado. Feio. Ridículo. Essas duras e fortes palavras são muitas vezes usadas por mulheres e homens para descreverem seus próprios corpos. Proponho uma reflexão: você olha no espelho e gosta do que vê? Qual foi a última vez que olhou para o seu corpo e falou “nossa, estou ótima”? Se até agora você não se identificou com esse texto, talvez ele não seja para você. Será? Para descobrir, vamos a outra reflexão: Já olhou para alguém e pensou “nossa, como essa pessoa engordou“?
As lições que aprendemos ao longo da vida sobre como nosso corpo deve parecer são baseadas em uma “cultura de magreza”. Enquanto ser magro é ser belo, ser gordo é feio, errado. Uma vez escutei um questionamento em uma palestra: “O que dói mais? O uso do espartilho pelas mulheres no século XIX para afinar as cinturas ou o uso do Photoshop, que nos força a buscar padrões inalcançáveis?”. A padronização da beleza e seu assustador alastramento midiático fazem com que a magreza seja um objetivo a qualquer custo.
A escritora e ativista contra a gordofobia, Virgie Tovar, esclarece muito sobre o assunto em sua palestra ‘Lose Hate, Not Weight’ (Perca Ódio, Não Peso) no TEDxSoMa, quando ela fala sobre como nosso peso afeta nossa vida e nossos relacionamentos. “Eu entendia que a minha gordura era uma manifestação externa da minha monstruosidade interna”, afirma Tovar no vídeo. A história dela é apenas uma entre uma imensidão de outras espalhadas por aí, de mulheres que passaram a juventude adiando a vida, aguardando o momento em que estariam magras o suficiente para poder amar, viajar, ir à praia, ter sucesso. Ela demorou a perceber que o problema real não era ela, e sim a cultura que todos nós estamos inseridos. Uma cultura que, usando termos fortes, odeia gordos. Em seu livro ‘Meu Corpo, Minhas Medidas’, Virgie conta ainda mais detalhes sobre sua trajetória e sobre a causa que ajuda a despertar.
O movimento Body Positive surgiu justamente para combater o desprezo sistemático aos corpos que não se encaixam em determinados padrões, propondo uma maior e melhor aceitação e valorização de nós mesmos em relação a nossos corpos. É o movimento de ter uma imagem corporal positiva e de aprender a ver mais beleza nas diferenças das pessoas. É para entender que o padrão ideal sugerido pelas capas de revistas está longe de ser o padrão “correto”. Porque isso não existe. O número da nossa calça não nos faz melhor ou pior do que ninguém. Nosso tamanho não nos define.
E vale lembrar que a positividade não precisa ser extrema, nem opressora. Ter uma visão positiva sobre nós não significa não mudar nada, mas alcançar um meio termo. Você não precisa amar suas estrias, você não é obrigada. Mas olhar de forma carinhosa para si facilita a hora de se apreciar com tolerância e aprender a conviver com o que vê no espelho. E, claro, é preciso parar de venerar a aparência do corpo. Que tal começar a focar na funcionalidade dele, por exemplo? Nosso corpo é quem nos carrega e nos aguenta diariamente. Parece bobo dizer, mas ele vive conosco todas as nossas aventuras, nossas experiências, nossas alegrias. E está conosco nos piores momentos também. Não seria a hora de começar a tratá-lo com mais carinho?
O crescente movimento de positividade corporal é uma oportunidade para mudarmos nossa sociedade realmente, para que nenhuma pessoa se sinta mais discriminada pelo seu peso ou características físicas. Mais do que nos amar, façamos o exercício da tolerância, a nós e aos outros, para que ninguém mais se sinta inadequado, feio ou errado na pele em que habita. Se libertar de padrões é algo que precisamos fazer juntos. Declaremos paz aos nossos corpos e aceitemos: nunca seremos ‘perfeitos’. Até porque, te pergunto, perfeito para quem?
Ana Maria Sbardella
Jornalista