Um cara qualquer…
Mais do que um livro, Um cara qualquer é um desafio. Esteja pronta para vivenciar uma nova experiência de leitura e de narrativa. Não se trata de uma obra trivial, daquelas que lemos e que nos trazem a boa sensação de estar diante de uma história confortável. Ao contrário, você estará diante de um texto profundamente desconcertante; perturbador. Curiosa?! Pois bem… a obra de Amber Tamblyn é um romance que trata de agressão sexual de uma forma que tem causado incômodo a muitos leitores norte-americanos.
Na verdade, a estranheza começou antes mesmo do lançamento. Semanas antes do escândalo envolvendo assédio sexual em Hollywood, a autora – que é uma atriz reconhecida por atuação em filmes e séries (Joan of Arcadia) – publicou o artigo I’m Done With Not Being Believed no The New York Times. Nele, classificou a indústria cinematográfica dos Estados Unidos como cúmplice no abuso sexual de mulheres; tendo sido ela mesma, vítima aos 16 anos. Foi chamada de visionária, quando as histórias de assédio começaram a correr o mundo; hoje é uma das vozes mais proeminentes do #MeToo. O movimento encoraja mulheres a não se calarem, incentivando-as a compartilhar histórias dos abusos que sofreram, usando a hashtag.
Da vida real para a ficção, no romance, o vilão é uma mulher que atinge homens com agressões sexuais tão violentas e perturbadoras que poderiam ter sido arrancadas de um filme de terror. As vítimas do sexo masculino são narradores e mergulham na dor profunda de lidar com as consequências do crime que sofreram. Em entrevista para Stephanie Merry, editora de Booke World do jornal The Washington Post, Amber afirma: “A arte precisa trazer conversas difíceis; eu não tenho dúvidas de que esse livro vai incomodar muita gente, mas estou bem com isso.”
Por traz da escolha de Amber Tamblyn há o desejo de chamar a atenção para um problema que atinge a sociedade como um todo. Há assédio sexual tanto de mulheres quanto de homens; há vítimas e algozes nos dois lados. E temos que falar sobre o prejuízo humano que envolve essa violência. Pela força da narrativa e relevância do tema, escolhemos esse romance para estrear uma tecnologia de leitura que trará o leitor para dentro da história; para além da experiência do livro impresso.
Um cara qualquer busca interagir com aquilo que, ultimamente, está mais próximo de nós: o celular. Essa obra leva a leitora para uma experiência inusitada, interagindo com a história de uma forma diferente. Em cada exemplar, há um QR Code que funciona como um passaporte para um Clube de Leitura exclusivo. A cada capítulo, ou momento narrativo, há um número que, quando acionado via celular nos transporta para uma interação singular. E sabe qual o maior desafio? A leitora não se precipitar e seguir o fluxo da narrativa. Se vencer o desafio da ansiedade – e seguir a ordem proposta – vai garantir a sincronicidade entre leitura e experiência. Ah…preparamos, também, uma playlist no Spotify!
E, ao final da leitura, queremos muito ouvir você. Não deixe de mandar críticas, sugestões, elogios e comentários.
Boa leitura!
Lu Magalhães
Presidente da Primavera Editorial