Estereótipos na Publicidade: os bancos de imagem são gordofóbicos?
Recentemente, fizemos uma pesquisa em banco de imagens procurando foto de mulheres gordas para compor uma espécie de quiz sobre gordofobia. E quando se começa a cavar o profundo buraco de preconceitos sociais, descobre-se muito mais do que se imaginava: os próprios bancos de imagens são lotados de estereótipos e preconceitos, com imagens incutidas em um padrão ultrapassado.
Eu poderia terminar esse artigo com a imagem abaixo, resultado da pesquisa de “fat women” no banco de imagens Shutterstock:
Com algumas exceções (amém!), a maior parte das imagens se encaixam em quatro grupos lamentáveis: a comparação entre a mulher gorda e magra; a mulher gorda em busca do emagrecimento; a exposição sem motivo aparente do corpo da mulher ou a mulher triste, medindo seu corpo, tentando fechar a calça!
Pasmem: esse padrão permanece pelas próximas páginas da busca… E o que isso demonstra? Primeiro: precisamos nos destruir e reconstruir imediatamente; segundo: um banco de imagens reflete uma demanda publicitária. Esses resultados na primeira página mostram que a publicidade ainda está enraizada em padrões estéticos absurdos.
Uma pesquisa feita pelo Instituo Patricia Galvao mostra que 65% das mulheres não acham representatividade na publicidade brasileira. E isso gera uma imensidão de problemas, já que boa parte desses 65% começam a [MLM1] buscar o encaixe nessas caixas-padrão, perseguindo metas muitas vezes inatingíveis. Não é à toa que o Brasil é um dos primeiros no ranking de cirurgia plástica de todo o mundo!
Vejo, no entanto, que algumas organizações já estão nesse processo de transformação. Organizações com visão, já que tal modelo ainda muito abraçado pela publicidade não se sustentará.
A Adobe lançou um banco de imagens “livre de estereótipos”, com fotos representativas da mulher brasileira. Segundo a organização, a ideia é que a mulher “deixe de ser invisível na publicidade” e que essa porcentagem apresentada pela pesquisa diminua! O fotolia já está no ar, com mais de 100 imagens nesse estilo, e é nosso dever disseminar esse tipo de ideias.
Além do Fotolia, o Nappy é um banco de imagens americano, 100% gratuito apenas com fotos com pessoas negras. Os criadores, também nessa busca, como a nossa, de fotos em banco de imagens, perceberam a dificuldade em encontrar boas fotos de pessoas negras, principalmente crianças.
“Se você digitar a palavra “café” no Unsplash (outro site de imagens grátis), raramente verá uma xícara de café sendo segurada por mãos negras. E terá o mesmo resultado se digitar [MLM2] termos como “computador” ou “viajar”. Você pode encontrar uma ou duas imagens, mas elas são muito raras. Só que os negros também bebem café, usamos computadores e certamente amam viajar”.
A Primavera lança, nesse mês de agosto, o livro “Meu corpo, minhas medidas”, de Virgie Tovar. Um livro que trata exatamente desse preconceito incutido na nossa cultura, as dificuldades (e, acreditem, o banco de imagens é mínimo perto dos relatos da autora) e como entender que não, você não precisa perder um quilo [MLM3] sequer para ser feliz!
Larissa Caldin|
Publisher da primavera editorial