Antes sós do que mal acompanhadas: por que as Millennials estão escolhendo não se casar
Se você também tem a impressão de que sempre que reúne um grupo de amigas, as discussões pendem mais às reclamações sobre boys ‘lixo’ do que aos planos de casamento daquela amiga que namora desde os tempos de caloura da faculdade… talvez não seja só impressão. A geração Millennial, nascida entre 1985 e os anos 2000, vem redesenhando os caminhos da maturidade: as clássicas instituições sociais, como religião, política e a ideia da família tradicional, vêm rapidamente perdendo força diante de fatores como influências econômicas, novos padrões de relacionamentos (especialmente através das mídias sociais) e a falta de confiança nas pessoas. Entre as mulheres, decisões sobre casamento ainda contam com uma grande dose de empoderamento – buscando seu reconhecimento pessoal através da própria individualidade, as Millennials querem não mais ser vistas como a esposa de alguém, optando por adiar algo que, num passado não muito distante, ainda seria visto como estritamente necessário à sua felicidade.
Essa geração de mulheres parece estar numa fase de perpétua transição; o sonho do vestido branco ainda se faz presente aqui ou ali – e não parece haver objeção ao que o casamento representa. A grande diferença entre esta e gerações anteriores está no autoinvestimento: o que somos e como nos relacionamos com nós mesmas ganhou importância imensuravelmente maior do que os padrões de “antigamente”. Esta evolução inclui desde a relação íntima individual (incluindo experiências de fé, autoanálise e um interesse mais apurado por aspectos que expliquem a psique humana, mesmo que de forma abstrata ou até controversa, como psicoterapia e até astrologia), a relação com a economia – especialmente no que coloca a geração Millennial como particularmente afetada pelo crash econômico em 2008 – e a relação com o outro, diretamente afetada por estes fatores.
Uma vez que as Millennials têm uma menor relação com religiões e uma relação mais aberta com sua fé, a experiência sexual passa a ser encarada de forma mais natural – mas sem o elemento político e revolucionário dos anos 70, por exemplo; ao mesmo tempo, as relações interpessoais tornam-se mais fluidas, ou até mesmo “líquidas”, como descritas pelo sociólogo Zygmunt Bauman. Já economicamente, as Millennials deixaram de enxergar o casamento como era visto no passado – uma solução para os problemas financeiros de uma mulher e sua família. O casamento agora é colocado em xeque justamente por problemas econômicos de ambas as partes, diante do questionamento sobre qualidade de vida e como isso afetaria um relacionamento a longo prazo. Já que o sonho de comprar um imóvel para iniciar uma família passou a ser tão distante, esta geração optou por investir em experiências e viagens ao invés da rota tradicional.
Diante de uma realidade tão fragmentada (e do questionamento aberto das instituições sociais), a busca por viver experiências e o investimento no autoconhecimento fizeram crescer a palavra da vez: empoderamento. Se antes a sociedade questionava uma mulher que não se casasse até determinada idade – pondo em xeque inclusive seu valor individual – a geração de Millennials passou a virar o jogo: a individualidade de cada uma é justamente aquilo que deve contar na hora de escolher (ou não) se casar. Seja de vestido branco numa catedral ou apenas deslizando o dedo num aplicativo de namoro, não cabe mais à sociedade dizer às mulheres de que forma agir, mas só elas mesmas.
Afinal de contas – antes só do que com boy lixo. Eu, hein.
Patricia Wiese