A ditadura do posicionamento: devemos nos posicionar sobre tudo?
Em um artigo anterior, falei sobre a ditadura da leveza. Eis que tenho que falar de outra ditadura que tem levado nossa sociedade à loucura – a do posicionamento. Devemos nos posicionar sobre tudo? Há uma expectativa de nos posicionarmos sobre todos os assuntos; uma demanda permanente de termos opinião sobre tudo e sobre todos.
E, nesse contexto, falta espaço para o “não sei” e, consequentemente, para o “vou pesquisar”. Uma vida sem espaço para aprender – e para refletir a partir das informações coletadas – é uma existência vazia de significado. É não dar espaço para transformar informações em conhecimento. Ao meu ver, claro!
Devemos nos posicionar para quem?
Por várias ocasiões profissionais e sociais, o “não sei” me proporcionou conversas e interações incríveis. Momentos em que aprendi com o olhar do outro e com a genuína gentileza dessas pessoas em dividir o que sabem comigo. O “não sei” abre espaço para muita coisa boa e nos liberta. Com essas duas palavrinhas mágicas ficamos livres da coação pessoal e coletiva que nos leva a achar que devemos nos posicionar o tempo todo.
Esse posicionamento contínuo banaliza o ato de pensar e nos torna levianos; nos rouba o tempo necessário para amadurecer repertórios. Estamos sempre ouvindo para responder – não para entender.
Esse comportamento do “sei tudo” está, acredito, associado à nossa eterna necessidade de aprovação. No livro Roube como um artista – de Austin Kleon – o autor dá um conselho que considero muito valioso: “Validação é para seu cartão de estacionamento”. Simples assim.
Um outro ensinamento precioso de Kleon é fazer uma diferenciação entre escola e educação. Misturamos tudo e, quando saímos da instituição formal de aprendizado, rompemos com a rotina de estudo.
A dica dele é que estando ou não na escola devemos melhorar a nossa educação. Precisamos investigar cada referência; ter curiosidade em relação ao mundo em que vivemos. Ser livre para aprender!
É nossa a responsabilidade de construir um cotidiano honesto e repleto de significado, independente de nos posicionar o tempo todo.
E, essa construção não será possível mediante uma postura engessada na qual não há espaço para aprender com o outro.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial